Câmara de Lobos, 22 de fevereiro de 2004. Eram cerca das 20:45 quando uma menina de dois anos, Sofia Catarina Andrade de Oliveira, foi retirada dos braços da mãe pelo pai, Luís Oliveira da Encarnação.
Desde então, nunca mais foi vista. O caso continua, até hoje, envolto num manto de silêncio, dor e mistério.
Na altura, Luís e Irene, os pais da criança, estavam separados. O casal, que se conhecera em Câmara de Lobos, já vivera junto nos Açores, na cidade da Horta, mas a relação deteriorou-se. Irene regressou à Madeira com a filha, após desentendimentos provocados pelas más condições da casa onde viviam. Dias depois, Luís apareceu e, com uma visita aparentemente inofensiva, levou a criança e desapareceu.
PUBLICIDADE
O rasto de pai e filha perdeu-se rapidamente. Luís recorreu a vários meios de transporte, incluindo um táxi e a boleia de familiares, para iludir eventuais perseguições. Foi visto pela última vez com a menina no Caniço de Baixo, concelho de Santa Cruz, perto da casa de uma irmã. Algumas horas depois, apresentou-se sozinho na esquadra da PSP de Câmara de Lobos, onde Irene já participava o desaparecimento da filha.
Dois dias depois, Luís foi localizado e detido nos Açores. Desde então, recusou sempre revelar o paradeiro de Sofia. Segundo o Correio da Manhã, Luís Encarnação conheceu Inês Andrade num bar. Foram viver juntos e a mulher descobriu que ele era casado e tinha dois filhos. Foram morar para casa dos pais dele, em Câmara de Lobos, e pouco tempo depois mudaram-se para casa de familiares, em Caniço de Baixo. Luís divorciou-se do primeiro casamento e o casal voltou a mudar de casa: foi para casa da mãe dela. Luís recebe uma proposta de trabalho nos Açores. Garantiram-lhe trabalho num barco maior e davam-lhe casa. Sofia já tinha nascido. Na Horta, o casal desentendeu-se uma vez que a casa prometida não tinha condições. A mãe pegou na menina e regressou à Madeira. Ele foi atrás e tirou-lhe a filha.
Durante o julgamento, perante juízes e jurados, manteve-se calado. Foi condenado, em 2005, a nove anos de prisão pelos crimes de sequestro, coação e subtração de menor. Mais tarde, no recurso, a pena seria reduzida para seis anos e cinco meses.
Nem o peso da prisão, nem as várias tentativas das autoridades (incluindo escutas telefónicas a familiares) conseguiram quebrar o seu silêncio. Luís, hoje com 52 anos, afirma apenas que a filha “está bem” e “nem sob tortura revela o que quer que seja”. Em 2013, já em liberdade condicional, reafirmou essa convicção ao Sol, mas continuou a recusar qualquer detalhe. “Sou do tipo de pessoas que se mantém firme até ao fim. Mais nada”, disse, acrescentando que o segredo morreria com ele.
A Polícia Judiciária continua a incluir o nome e a fotografia de Sofia, tal como era aos dois anos, na sua lista de desaparecidos. Se estiver viva, terá agora 23 anos. A mãe, Irene Andrade, nunca perdeu a esperança. Em 2023, deixou um apelo comovente ao Diário de Notícias da Madeira: “As pessoas que têm a minha filha não precisam de ter medo. Eu não me quero vingar, só quero a minha Sofia. Por isso, não precisam de se mostrar. Entreguem-na ao padre, à porta da Judiciária, mas deixem-me ter de novo a minha filha nos meus braços.”
Quando desapareceu, a menina vestia uma camisola, com desenhos de flores de cor roxa, e umas calças, de cor cinzenta, com desenhos estampados. Calçava meias brancas e vermelhas, sem sapatos.
Ao longo dos anos há relatos de que entregou a um familiar, que a deu a turistas, ou que pagou a gente de confiança para a criar e que quando morrer, o segredo vai com ele.
No silêncio de um pai, persiste o enigma: Onde está Sofia? Está viva? Quem a criou?
O tempo passa, mas o mistério permanece. O pai jurou jamais revelar o paradeiro da menina. E, com ele, a esperança ténue, mas viva de que um dia, alguém fale.
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE