Opinião

Sísifo com chuteiras

Notícias de Coimbra | 7 meses atrás em 11-05-2024

Harry Kane, o homem que marcou mais golos pela seleção inglesa do que qualquer outro, o artilheiro nato que faz tremer as redes adversárias, o ídolo que liderou o Tottenham rumo a uma final da Champions League… e que nunca ganhou nada.

É misteriosa a razão por que, quando se fala de Kane, a palavra ‘derrota’ parece ser pelo menos tão frequente quanto ‘golo’. Avançado completo, profissional exemplar, a verdade é que mesmo quando trocou o Tottenham pelo Bayern Munique – gigante alemão que coleciona títulos como quem coleciona cromos – e o mundo inteiro se convenceu de que deixava a sua ‘maldição’ em White Hart Lane, nem assim o seu destino foi o lugar mais alto do pódio. Na semana que passou, confirmou-se uma época em branco para o goleador e para o clube bávaro e a pergunta escutou-se mais alto do que alguma vez antes: Será o próprio Kane a sua ‘maldição’? 

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Podemos olhar para este caso como apenas uma desinteressante coincidência numa atividade sem particulares méritos ou sofisticação, mas se acreditarmos que existia tanta eloquência no pé esquerdo de Maradona como na filosofia de Platão (e eu não vejo como se pode pensar o contrário), talvez possamos olhar para Kane como um Sísifo moderno, condenado a empurrar uma bola de futebol eternamente para o topo da montanha, apenas para a ver rolar de volta para baixo, numa repetição incessante de frustrações e desilusões que nos fazem perceber como pode ser fútil o esforço humano.

Vincent van Gogh poderia queixar-se do mesmo, não tendo conseguido vender praticamente nenhum dos seus quadros em vida, Nikola Tesla não discordaria também da ideia de não haver correlação direta entre o génio e o sucesso e a lista podia continuar…

Na história da Humanidade, tanto entre aqueles que entraram para os manuais escolares, como entre todos os anónimos que nunca atingiram a coincidência entre competência e oportunidade, não faltam exemplos de quem viu o sucesso escapar-lhe entre os dedos apesar do seu talento, ambição e motivação.

E é esta circunstância que torna Kane tão fascinante. É um herói trágico, que nos comove com a sua luta incessante contra o destino de estar sempre no sítio errado à hora errada. Mas não é a vida precisamente uma sucessão de altos e baixos, de triunfos e derrotas, de momentos de glória e de desilusão, em que é impossível vencer sempre? Se esse é o caso, importante é aprender com as derrotas e nunca desistir. Porque, como Harry Kane será o primeiro a concordar, está sempre para começar uma nova época.

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OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO

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