Como eu gostava de acreditar em bons pastores e, talvez, em boas ovelhas. O ceticismo, porém, já se tornou parte do inventário das frustrações. Não sei como se proclama a paz, que forma tem, que sabor traz, nem se serei fanática ou pedante sempre que a menciono.
Há dias em que o mundo cheira bem: quando parece funcionar com acordos e propósitos ocultos, apenas para que alguém saia bem na fotografia. A maioria das pessoas vive hoje nas cidades; e é nelas que se confrontam com as problematizações — comuns e incomuns — que se intrometem nas suas vidas.
Gostava de saber se ainda estamos aptos para o voto. Se percebemos que, tantas vezes, é a coerência o motor da mudança. Leram os programas? Ouviram os candidatos?
PUBLICIDADE
Apertaram-lhes as mãos? “Ano eleitoral tem tanto dessas coisas…” Sabemos que as promessas se repetem — muitas já garantidas pelo próprio Estado — e, mesmo assim, voltam a ser ditas, gastas, enfadonhas, conforme quem as pronuncia.
Desde o ventre materno que somos eleitores em formação. Por isso, a defesa do voto continua a ser uma das mais silenciosas — e poderosas — revoluções da democracia.
O cenário ideal é a utopia. Porque, hoje, tantas das nossas escolhas — certas ou erradas — não resolvem o que está entranhado numa cidade que ainda sangra. A dúvida, essa, recai sobre o carácter dos que pleiteiam a cadeira do poder. “Santo Deus”, não sei se somos nós ou eles os mais ingénuos. O progresso de uma cidade só se reconhece em concreto, quando já não há margem para a repetição de promessas.
O que dói é saber que, noutras cidades que não a nossa, alguns presidentes conseguiram fazer o básico — ou o impossível — em apenas quatro anos. E, convenhamos, quatro anos é muito tempo para quem nada faz do que deveria: honrar o voto do cidadão e garantir o elementar — saúde, segurança, transporte, educação e cultura.
Na política o carácter de um homem ou mulher não pode ser uma promessa. E, curiosamente, é aquela que menos precisa de prova. A virtude não tem manual. Mas há manuais que parecem interessar aos políticos, esses que abrem espaço à ambiguidade e à palavra não cumprida.
De uma coisa, porém, ninguém escapa: bem ou mal, a cidade terá um eleito. E esperemos que os próximos quatro anos sejam suficientes para governar Coimbra com ousadia e temperança.
Porque governar para os conimbricenses deveria ser mais do que uma ambição — deveria ser uma missão encorajadora, digna da cidade que nasceu sob o olhar da História.
Exercer tal papel perante uma sociedade cansada de promessas é, talvez, o primeiro desafio. E são tantos, que, às vezes, esqueço-me do que melhor traduz a nossa utopia. É tempo de silêncio.
OPINIÃO | ANGEL MCHADO – JORNALISTA
PUBLICIDADE