A meta de descarbonizar 62% da indústria do vidro até 2030, face a 2005, vai ser difícil de cumprir, levando em conta as grandes melhorias na redução de poluentes que o setor tem apresentado, disse hoje uma especialista.
Em declarações à agência Lusa, na Figueira da Foz, à margem da apresentação do Roteiro para a Descarbonização da Indústria do Vidro de Embalagem e Cristalaria (RODIV2050), Marisa Almeida, uma das responsáveis pelo documento, notou a dificuldade em cumprir a meta dos 62%, já daqui por cinco anos, para os setores do vidro abrangidos pelo Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE).
“A meta de 2030 é já amanhã, eu acho que vai ser difícil. É um setor que já fez melhorias muito grandes, estas reduções já foram muito significativas, desde 2005 até agora. Já vamos em 570 mil toneladas, mas, em termos específicos, estamos a emitir quase metade do que emitíamos em toneladas de CO2 [dióxido de carbono] por tonelada de vidro fundido”, argumentou a autora do estudo.
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“É bastante bom”, notou Marisa Almeida, responsável da área de Ambiente e Sustentabilidade do CTCV – Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro, autora do roteiro em conjunto com João Machado Fernandes, da consultora Ernst & Young.
A responsável notou que a redução de emissões atual é de quase 40%, apesar da indústria do vidro de embalagem ter crescido em Portugal, passando a produzir mais 50% de 2005 até agora, para as 16 milhões de unidades.
Já para o setor poder atingir a neutralidade carbónica em 2050 “e mesmo para 2030, tem de haver uma política nacional energética mais consolidada e interdisciplinar”, defendeu.
No RODIV2050, elaborado para a Associação dos Industriais de Vidro de Embalagem (AIVE) e APICER – Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e Cristalaria, a cujo sumário executivo a agência Lusa teve hoje acesso, os autores sustentam que alinhar a indústria do vidro com os objetivos climáticos globais “exige redução significativa das emissões de gases de efeito de estufa”.
No documento, as medidas de descarbonização preconizadas passam “por uma abordagem integrada”, através da eletrificação dos processos térmicos, uso de combustíveis de baixo carbono – como o biometano ou o hidrogénio verde – eficiência energética ou tecnologias de remoção de CO2, entre outras.
No entanto, estas medidas apresentam dificuldades variadas: por exemplo, a eletrificação dos fornos pode chocar com a capacidade limitada das redes elétricas e preço da energia, enquanto a utilização, em fornos híbridos, de biometano – com características semelhantes ao gás natural, mas ainda pouco competitivo face a este – encontra em Portugal uma capacidade produtiva que ainda não responde às necessidades da indústria.
“Temos de ter biometano, porque se houver biometano vai ser muito mais fácil, só que o plano prevê um biometano que ainda é escasso para todos os setores industriais”, observou Marisa Almeida.
A especialista do CTCV admitiu que para descarbonizar o setor não basta boa vontade: “É preciso haver dos fornecedores de biometano, de hidrogénio, toda uma conjugação para ser possível. E também os custos têm de ser eficazes. A sustentabilidade tem três vetores, o ambiente, a parte económica e a parte social das pessoas”, aduziu.
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