A Associação Académica de Coimbra – Organismo Autónomo de Futebol (AAC/OAF) é
mais do que um clube de futebol.
Trata-se de uma instituição com raízes profundas na vida académica e cívica de Coimbra, onde o desporto se entrelaça com a cultura, a cidadania e a memória histórica. No centro dessa identidade está o Conselho Académico, um órgão que, embora sem poderes executivos, representa o espaço natural para reflexão, crítica e construção coletiva do futuro da Académica.
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Desde os seus primórdios, a Académica tem sido um reflexo da vida universitária. O preto das capas, que cobre tanto os estudantes como os atletas, não é uma coincidência estética, é um símbolo de uma identidade coletiva, feita de luta, de tradição, de irreverência e de exigência ética. Hoje, continua a carregar esse peso simbólico e a responsabilidade de ser fiel a uma herança que combina educação, exigência ética e paixão desportiva.
Nesse quadro, o Conselho Académico deve funcionar como guardião dessa identidade, mas tem sido, infelizmente, subvalorizado e relegado para funções meramente formais, limitando-se, muitas vezes, a repetir discursos já ouvidos noutros fóruns.
É urgente devolver centralidade ao Conselho Académico, transformando-o num motor de participação e inovação. A sua composição plural, eleita pelos sócios, é um trunfo democrático que precisa de ser aproveitado para reaproximar o clube da sua base académica e associativa.
Em tempos de discussão sobre modelos de gestão, figurinos societários e profissionalização, este órgãodeve assumir-se como garante da transparência e da legitimidade, assegurando que todas as decisões estruturais sejam fruto de debate aberto e fundamentado.
Entre as propostas para revitalizar o Conselho destacam-se: a organização de um III Congresso da Académica, com participação intergeracional; a criação de comissões temáticas permanentes sobre áreas como sustentabilidade financeira ou identidade e tradição; a promoção de sessões públicas abertas à comunidade académica e aos sócios; e a defesa de alterações estatutárias que favoreçam uma calendarização eleitoral mais racional. Estas medidas não pretendem esgotar o debate, mas abri-lo, com método, compromisso e uma visão clara de futuro.
A Académica não é comparável a outros clubes. Defender o Conselho Académico é, por isso, defender o caráter único da Briosa. É também reforçar o seu papel como elo entre o clube, a cidade e a Universidade de Coimbra, incentivando o diálogo, a cooperação e a criação de pontes duradouras entre gerações.
Mais do que nunca, o clube precisa de estruturas vivas, participadas e ligadas à sua essência. O Conselho Académico pode ser essa estrutura: um espaço de memória, mas também de projeção; um fórum de crítica construtiva, mas também de esperança. É tempo de o recuperar, não como uma formalidade, mas como um pilar ativo e respeitado da vida da Académica.
O futuro da Académica não está garantido, depende das escolhas do presente. Reanimar o Conselho Académico é uma dessas escolhas fundamentais. Porque ser Académica é mais do que vestir preto, aos domingos. É um compromisso com a História, com a democracia interna e com a construção de um clube com alma, memória e visão.
OPINIÃO | RICARDO CLÉRIGO
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