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Saudades, expectativas e algum ceticismo no arranque do Metrobus na Lousã
Imagem: PAULO NOVAIS/ LUSA
O ‘metrobus’ arrancou hoje pela primeira vez da Lousã, após décadas de espera. Na viagem, há quem fale de esperança num serviço mais frequente, há quem deixe para trás as saudades da automotora e quem ainda guarde algum ceticismo.
Carina Vaz, de 30 anos, está habituada a fazer o percurso até Coimbra desde que entrou no secundário. Na altura, o ramal ferroviário tinha acabado de encerrar para dar lugar a um projeto de metro de ligeiro de superfície que acabou interrompido, sendo retomado anos mais tarde como ‘metrobus’ – autocarros elétricos a circular em via dedicada.
Depois de muitos anos de espera e expectativa, Carina apanhou hoje o autocarro do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM) na estação da Lousã, já não para ir estudar para Coimbra, mas para trabalhar.

“Esperava que fosse mais rápido e já anda atrasado”, lamentou a habitante da Lousã, que contabilizava já mais de 13 minutos de atraso do autocarro que deveria ter saído às 07:38 daquela paragem.
No telemóvel, acabava também de receber o relato de uma amiga, que contava que o ‘metrobus’ em que seguia estava tão cheio que já não deixava entrar mais ninguém nas estações por onde passava.
Apesar disso e apesar de a viagem demorar quase uma hora (sensivelmente o mesmo tempo da automotora), Carina Vaz conta agora ser utente regular do sistema, que assegura mais frequência e melhores horários que os serviços rodoviários alternativos que foi usando ao longo destes 16 anos.
“Espero que seja bom e que se alargue a mais concelhos”, disse, com expectativa que, no futuro, os atrasos deixem de existir.
Já Liliana Francisco, de 43 anos, ainda guarda algum ceticismo face ao novo sistema, que a deixou logo pouco impressionada face ao atraso registado no primeiro dia.

A habitante da Lousã queixa-se ainda da diferença de tratamento face à população de Coimbra, que andou de graça durante três meses na operação preliminar urbana, quando no caso de Miranda do Corvo e Lousã, terão apenas direito a meio mês de operação gratuita.
“Fomos os mais afetados e começamos logo a pagar em janeiro. Acho injusto”, criticou Liliana, pouco antes de o ‘metrobus’ chegar, fazendo toda a viagem até Coimbra próximo da sua capacidade máxima.
Dentro do autocarro elétrico articulado, Rafael Lopes, sentado numa das cadeiras mais próximas do condutor, procurava tirar proveito de uma viagem que era, para si, emotiva.
São vários os momentos da sua vida que se relacionam com o antigo ramal ferroviário, mas também com o novo sistema que trocou os carris pelo asfalto.

No telemóvel, guarda uma fotografia de ainda garoto ‘a ajudar’ a construir o apeadeiro de Lobazes. Mais tarde usou a automotora para ir para a escola e, já na vida adulta, trabalhou na Efacec, assegurando a manutenção das passagens de nível do ramal da Lousã.
Com o fim do ramal, perdeu esse emprego.
“Senti diretamente o fim do ramal”, disse à Lusa o homem de 47 anos que, face “às voltas estranhas” que a vida dá, trabalha hoje numa outra empresa que está a assegurar a sinalização na operação urbana do SMM.
Sabendo que hoje arrancava a operação no ramal onde já trabalhou, decidiu acordar cedo e experimentar o percurso.
“Quando entrei, veio aquela lágrima da emoção”, contou Rafael Lopes, que lamenta o tempo que demorou a que o SMM se tornasse realidade: “Muita gente sofreu com isto e, alguns, nem estão agora vivos para ver isto a funcionar”.
Ao seu lado, na viagem, seguia Guilhermina Santana, de 65 anos, que assim que se sentou, lançou um desabafo: “Ai, que saudades da automotora”.
Habituada a usar o ramal desde anos 80 para trabalhar em Coimbra, irá agora passar a usar o SMM, depois de ter usado os serviços rodoviários alternativos.
Apesar de ter entrado nostálgica naquela viagem, na paragem final, na Portagem (Coimbra) admitia que as saudades, afinal, ficariam para trás.
“É mais confortável e tem mais horários. Já não vou ter saudades”, disse Guilhermina, enquanto se despedia da Lusa e seguia para o seu trabalho.
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