Economia

Sapatos feitos com caroços de azeitona? Só em Portugal

Notícias de Coimbra | 23 minutos atrás em 09-09-2025

Imagem: bioshoesforall

 Resíduos como caroços de azeitona, cascas de laranja ou podas de videira, tidos como lixo, ganham uma nova vida com o projeto BioShoes4All, que os vai incorporar em sapatos portugueses, num investimento de 60 milhões de euros.

Este projeto, que envolve 50 empresas, para além de 20 entidades do sistema científico e tecnológico, surgiu com o objetivo de dar um novo impulso à transição do ‘cluster’ do calçado português para uma economia baseada em recursos renováveis, com um ‘empurrão’ do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

“O objetivo foi identificar subprodutos agroalimentares, agroindustriais e agroflorestais, que Portugal tem em grande quantidade e que não eram valorizados. Por exemplo, a casca do pinheiro, o pó de café moído ou folhas e podas de videira”, explicou a responsável pelo projeto, Maria José Ferreira, à Lusa.

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Destes subprodutos são assim extraídos “ingredientes químicos”, que depois são usados para transformar as peles.

Já os caroços de azeitona, a pele da castanha, cascas de arroz, restos de tomate ou de casca de laranja podem ganhar uma nova vida em palmilhas, garantido que o produto para além de sustentável é resistente.

Maria José Ferreira quer que estas soluções agradem visualmente ao consumidor, mas também que este seja informado de que está a comprar sapatos “que também são bons para ele”, do ponto de vista do conforto, mas também biomecânico.

Neste sentido, são realizadas análises científicas que atestam que o produto é ‘bio’.

Este projeto quer chegar a adultos, mas também a crianças, para além ter opções mais técnicas ou dedicadas ao público sénior.

Outro aspeto em que a BioShoes4All está a dar “os primeiros passos” é na garantia de que o calçado pode também ele vir a ser reciclado e a integrar a economia circular.

“Vai ser necessário mais trabalho e projetos complementares. O calçado é um produto muito complexo, com muitos materiais, e não podemos pôr em causa a sua durabilidade e resistência. Não podemos ter um sapato que se desmanche facilmente”, avisou a responsável.

Conforme apontou, os consumidores têm-se mostrado muito interessados nestas soluções, tendo o projeto somado contactos de potenciais clientes europeus e não europeus na feira de calçado MICAM, que encerra hoje, em Milão, Itália, e na qual foram apresentados os resultados do BioShoes4All.

No futuro, o projeto quer também vir a integrar no calçado subprodutos que venham do mar, estando já em contacto com várias entidades que podem ajudar nesta matéria.

Este projeto conta com um financiamento de 40 milhões de euros, num total de 60 milhões de euros de investimento.

Segundo os dados disponibilizados pela APICCAPS – Associação Portuguesa da Indústria do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Sucedâneos, no primeiro semestre de 2025, as exportações portuguesas de calçado aumentaram 3,7% em valor para 843 milhões de euros.

Entre janeiro e junho, foram exportados 36 milhões de pares, mais 5,4%.

Em 2024, as exportações do ‘cluster’ do calçado atingiram 2.147 milhões de euros.

No ano passado, Portugal produziu 80 milhões de pares de sapatos, sendo que 68 milhões de pares foram exportados, no valor de 1.724 milhões de euros.

O calçado português foi, neste período, comercializado, em mais de 170 países e Belize foi o mais recente destino.

O Plano Estratégico do Cluster do calçado prevê um investimento de 600 milhões de euros até 2030.

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