As associações de proprietários florestais defendem a valorização da carreira de sapadores florestais, devido ao elevado desgaste e risco da profissão, e não receiam ser avaliados pelo seu trabalho ao longo do ano na prevenção de incêndios rurais.
“Pedimos a valorização da carreira dos sapadores”, porque é uma atividade “de desgaste” e “exige também muito esforço e muito risco no verão”, e “queremos também mais dinheiro para as associações, as organizações de produtores florestais, para poder pagar melhor às equipas”, afirmou Luís Damas.
Em declarações à Lusa, o presidente da direção da Federação Nacional de Associações de Proprietários Florestais (FNAPF), que junta 41 organizações do norte, centro e sul do país, defendeu que uma maior valorização da carreira permitirá reter os melhores profissionais.
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Nos balanços de incêndios rurais destacam-se as ocorrências com mais danos, mas Luís Damas salientou o trabalho dos sapadores florestais e “os fogos que não tiveram história”, pois “as primeiras intervenções destas equipas são imensas, nos anos todos, e pouparam muitos milhões de euros ao Estado”.
“Cada intervenção com uma equipa de sapadores que não dá um fogo grande, não se gasta meios de combate, helicópteros, aviões, e a floresta não arde”, frisou o dirigente da FNAPF, que tem sete equipas de sapadores florestais.
O também dirigente da Associação dos Agricultores de Abrantes, Constância, Sardoal e Mação explicou que se trata de “um trabalho de sapa, que não dá nas vistas no verão, porque normalmente andam todo o ano na floresta e depois também fazem apoio ao rescaldo”.
“Portanto, estão em pontos estratégicos aprovados pelo plano municipal de defesa da floresta dos municípios e não estão nos quartéis”, notou, acrescentando que, como conhecem as áreas florestais em que trabalham durante o inverno, conseguem “chegar rapidamente” aos pontos de ignição, ao contrário de outros elementos destacados para o combate, muitas vezes de corporações de meios urbanos distantes.
Para Luís Damas, esse conhecimento do território “é uma mais-valia” e os sapadores florestais “são avaliados todos os anos pelo trabalho que fazem, pelo desempenho que têm nos fogos”.
Segundo o relatório de 2024 da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), divulgado em junho, a vigilância móvel terrestre, entre 06 de maio e 05 de novembro, empenhou “50.312 patrulhas GNR, 2.046 das Forças Armadas, 225 da Autoridade Marítima Nacional, 905 da PSP, 61 bombeiros, 34.494 sapadores florestais, 2.325 da EMIF [Equipas Municipais de Intervenção Florestal], 1.123 vigilantes da natureza e 4. 274 de outras forças”.
Na rede secundária de gestão de combustíveis, o programa de sapadores florestais (PSF) executou 1.262 hectares (ha), relativamente ao serviço público prestado ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a que acrescem 4.912 ha de rede secundária em serviço normal, totalizando 6.174 ha.
Os sapadores florestais têm que “trabalhar para o ICNF mais ou menos 110 dias por ano, 60 de prevenção e os restantes de serviço público”, em faixas de contenção, “na floresta e não ao pé das casas”, notou Luís Damas.
“Nestes últimos dias, na Serra da Estrela, quem lutou muito ao pé da Torre foi a equipa de sapadores, porque aquilo é trabalho apeado e os carros de bombeiros não vão lá, tem que ser a pé, com material de sapador”, exemplificou o responsável da FNAPF.
Desde a criação do PSF, em 1999, foram realizadas auditorias por entidades externas em 2010, 2015 e 2022, e todos os anos as equipas de sapadores têm de submeter ao ICNF planos de atividades a desenvolver no ano, relatórios semestrais e trimestral de julho a setembro sobre o trabalho de vigilância.
“Temos um controle ao semestre, um controle trimestral e depois o relatório final todos os anos, e há entidades que às vezes não recebem porque o relatório tem que ser retificado, e às vezes há redução de verbas por não ter um elemento ou não fez uma área”, explicou Luís Damas, considerando que “se há algum programa mais controlado ou mais auditado é mesmo o programa de sapadores”.
O relatório de avaliação do PSF 2011-2021, realizado pelo ForestWise – Laboratório Colaborativo para Gestão Integrada da Floresta e do Fogo, identificou oito desafios principais, tendo como central o “aumento de apoio financeiro” às equipas, “com impacto em todos os outros desafios”.
Nesses desafios cabem o recrutamento de sapadores, a sua profissionalização e qualificação, o acesso a equipamento adequado e a melhoria do desempenho das equipas, melhor cooperação entre entidades, a sustentabilidade das equipas e maior valorização e reconhecimento do PSF.
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