O reitor da Universidade de Coimbra (UC), Amílcar Falcão, defendeu hoje que o mínimo de duas provas para ingressar no ensino superior “deve ser para manter” e considerou ainda que há “um excesso” de vagas e de cursos.
Num discurso na cerimónia de abertura solene das aulas 2025/26, durante o qual abordou os resultados do recente Concurso Nacional de Acesso (CNA), Amílcar Falcão falou sobre os impactos de reintroduzir as regras do período pré-pandemia covid-19 na conclusão do ensino secundário e no acesso ao ensino superior.
Em causa está o retorno dos exames nacionais, para concluir o secundário, e a exigência de pelo menos duas provas para ingressar no universo académico, medidas que foram reintroduzidas em 2023, mas “só este ano” tiveram impacto.
“Para além de considerar que o mínimo de duas provas de ingresso para acesso ao ensino superior deve ser para manter”, deixou ainda o alerta de que “a via do facilitismo e da falta de qualidade não costumam acabar bem”.
A afirmação decorre no dia em que a Direção-Geral do Ensino Superior divulgou os resultados da última fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior (CNAES), que demonstram que os caloiros no ensino superior diminuíram 10%.
Os dados revelam que as universidades e institutos politécnicos têm agora 45.290 novos estudantes, ou seja, menos 10% do que no ano passado, quando ficaram colocados 50.612 candidatos.
Recordando que na primeira fase de 2019 existiam 50.860 vagas no ensino superior público, tendo sobrado 6.734, comparou com os 55.292 lugares de 2025, sobre os quais restaram 11.513.
Segundo o reitor, “os anos com números mais elevados de candidatos ao ensino superior (2020 a 2024) foram anos em que os alunos puderam concluir o ensino secundário apenas com as notas internas, sem realização de exames externos nacionais”.
A ideia de que é possível “resolver a queda abrupta verificada no número de estudantes que concluíram o ensino secundário este ano acabando com os exames nacionais tem custos enormes, não só do ponto de vista da qualidade, mas também da justiça relativa”.
Para Amílcar Falcão, a questão central da discussão é o que o país e o sistema de ensino podem fazer “para suprir as fragilidades” da Educação.
Na sua intervenção, o reitor da UC disse que, durante a pandemia de covid-19, houve um aumento de vagas e de cursos, que atualmente originam uma rede de ensino superior público sobredimensionada.
“Dos 1.131 cursos disponibilizados aos estudantes no Concurso Nacional de Acesso, nesta primeira fase existem 41 com zero candidatos e 135 cujo número de estudantes que se candidataram (sendo certamente menos os que efetivaram a inscrição) se situou entre um e cinco, e cuja viabilidade é obviamente nula”, sublinhou.
O responsável criticou ainda a presença do ensino superior no interior como forma de combater a despovoamento, asseverando que o aumento da oferta nas áreas mais deprimidas “se correlaciona fortemente com a oferta de cursos cuja viabilidade é mais duvidosa”.
“Sou muito sensível à coesão territorial, mas tenho alguma dificuldade em perceber que a desertificação do interior, onde foram fechadas escolas primárias, estações de correio, dependências bancárias e centros de saúde, se revitalizem agora com a presença do ensino superior (arriscaria a dizer que é como começar uma casa pelo telhado)”, disse.
No seu discurso, adiantou que a refeição social da UC, a partir de quinta-feira, passará a ter um custo de dois euros para todos os bolseiros da Direção Geral do Ensino Superior, enquanto os restantes alunos podem continuar a aceder ao serviço por 2,40 euros.
Destaque ainda para o anúncio de “um corte muito grande no número de camas”, com 1.011 disponíveis, devido a intervenção em três residências estudantis, num universo em que dois terços dos estudantes da instituição são deslocados.
Há, entretanto, duas novas residências a serem construídas e a expectativa é a de aumentar a oferta em 50% para o próximo ano letivo.
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