Portugal

Recordista português encontra novo rumo como treinador na China

Notícias de Coimbra com Lusa | 1 hora atrás em 13-07-2025

Imagem: PIXABAY

Num final de manhã em Pequim, o nadador Guilherme Pina, recordista português dos 1.500 metros livres, regressa à água um treino solitário na piscina pública do Parque de Chaoyang, após seis meses parado.

“Perdi resistência, mas ganhei velocidade”, descreveu Pina à agência Lusa após o treino de uma hora, revelando ter ganhado 15 quilos desde que deixou de competir, apesar de manter uma fisionomia magra.

Nascido e criado nas Caldas da Rainha, Guilherme Pina começou a praticar natação aos 6 anos, num clube da Benedita, do vizinho concelho de Alcobaça. Já adolescente, passou a treinar no Centro de Alto Rendimento (CAR) de Rio Maior, onde teve “uma evolução muito grande”, que lhe permitiu mudar-se, aos 18 anos, para o Sporting, continuando o seu percurso no CAR do Jamor.

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Ao longo de mais de 15 anos de carreira, participou em três Campeonatos da Europa e dois Mundiais, nas categorias júnior e sénior, tendo estabelecido o recorde nacional dos 1.500 metros livres em ambas as categorias, o dos 800 livres em júnior e o dos 5.000 em piscina.

A paragem na carreira surgiu cedo, aos 22 anos, já no segundo ano da licenciatura em Educação Física e Desporto.

“Acabei por parar por questões psicológicas e treino excessivo. Quando fui para o Jamor, o volume de treino aumentou muito. Chegou a um ponto em que já não estava a conseguir”, explicou.

Com a pandemia de covid-19, em março de 2020, e a dificuldade de conciliar treinos com os estudos, Pina decidiu abandonar a competição.

“Nos chamados desportos amadores, é muito difícil viver só do rendimento desportivo”, lamentou.

A formação académica abriu-lhe o caminho para a carreira de treinador, que hoje desempenha no SDM Sport Performance Centre, localizado junto à porta sul do Parque de Chaoyang, o maior espaço verde de Pequim. Estas instalações recebem atletas de várias modalidades, incluindo futebolistas com passagem por clubes portugueses, mas é na natação que Pina mantém o foco.

“Tenho aqui uma dupla função, pois dou treinos tanto na piscina como no ginásio”, explicou.

Trabalha sobretudo com nadadores entre os 12 e os 16 anos, muitos dos quais procuram um complemento ao treino nos clubes ou escolas.

“A maioria vem de clubes privados. Trabalhamos a técnica, a progressão e tentamos evitar que haja excesso de carga”, contou.

A natação chinesa impressiona sobretudo pela dimensão: “Há um clube aqui em Pequim com 2.500 praticantes. É um mundo gigante”, descreveu.

“A base da pirâmide é muito larga. Isso facilita o topo”, vincou.

Nos Jogos Olímpicos Paris2024, a China registou o melhor desempenho de sempre na modalidade, com a conquista de duas medalhas de ouro, três de prata e sete de bronze – um feito que contou com o contributo de Nuno Pina, irmão de Guilherme, que integrou a preparação física de Pan Zhanle, uma das ‘estrelas’ dos Jogos.

Após as grandes competições, os atletas regressam às suas províncias, onde continuam a treinar com apoio do Estado e técnicos de alto nível.

“Fazem uma seleção muito exigente. E com tantos praticantes, podem escolher os melhores e dar-lhes boas condições”, descreveu Guilherme Pina.

Apesar da eficácia do sistema, Pina aponta fragilidades no ensino público da natação: “Vejo grupos de 30 ou 40 miúdos, entre os 8 e os 12 anos, a treinar com técnica rudimentar e volumes demasiado grandes. O risco de lesão é enorme”.

Nos clubes privados, observa métodos mais modernos, muitas vezes introduzidos por técnicos estrangeiros.

“Tenho miúdas a treinar comigo que vêm de clubes com treinadores suíços ou australianos. Nota-se logo na técnica e na progressão”, disse.

Pina não esconde a admiração pelo percurso do português Diogo Ribeiro – bicampeão mundial sénior (50  e 100 metros mariposa em Doha2024) e recordista mundial júnior –, mas lembra que são casos raros.

“É, se calhar, dos únicos a conseguirem resultados de topo e a viver 100 % da natação. A maioria tem de fazer escolhas difíceis, como eu fiz”, recordou.

Hoje, longe da competição, continua a treinar três a quatro vezes por semana no ginásio, pedala diariamente para o trabalho e aplica no treino dos outros o que aprendeu dentro de água.

“O meu tempo já passou, mas continuo a viver a natação com a mesma paixão. Agora, do lado de fora da pista”, concluiu.

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