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Reconfiguração do modelo chinês de financiamento ao exterior deve afetar Angola 

Notícias de Coimbra | 2 anos atrás em 06-05-2022

A China está a reconfigurar o seu modelo de financiamento ao exterior, visando reduzir riscos de incumprimento e o apoio aos combustíveis fósseis, o que deverá afetar Angola, segundo um estudo da Universidade de Boston.

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“Futuras oportunidades de financiamento da China podem apoiar a transição energética de Angola e diversificar a sua economia, altamente dependente das exportações de petróleo”, disse à agência Lusa Oyintarelado Moses, analista de dados no Global China Initiative (GCI), uma unidade de investigação do Global Development Policy centre, da Universidade de Boston.

A cooperação da China com Angola tem sido dominada pela relação entre Estados: bancos de fomento públicos chineses concedem empréstimos para construção de infraestruturas, a cargo de empresas estatais chinesas, servindo o petróleo angolano como colateral.

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Segundo o estudo publicado no mês passado pelo GCI, o Banco de Desenvolvimento da China e o Exim Bank, os dois principais bancos públicos do país que financiam projetos de desenvolvimento no exterior, não realizaram novos empréstimos para projetos de energia, em 2021.

Os dois bancos emitiram um total de 234,6 mil milhões de dólares (221 mil milhões de euros) em empréstimos a governos estrangeiros e entidades do setor energético, entre 2000 e 2019, excedendo em muito o total de empréstimos concedidos pelo Banco Mundial no setor energético, durante o mesmo período.

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Mas, segundo o GCI, a iniciativa “uma faixa, uma rota”, o gigantesco plano de infraestruturas lançado por Pequim, está a ser revisto pelas autoridades chinesas, visando reduzir o financiamento de projetos de combustíveis fósseis e direcionar o dinheiro para fontes de energia mais limpas.

O Presidente chinês, Xi Jinping, anunciou, em setembro passado, que a China vai deixar de construir fábricas a carvão no exterior e apoiará “fortemente” o desenvolvimento verde nos países mais pobres.

“Este compromisso provavelmente resultará em apoio financeiro ao desenvolvimento das energias renováveis em Angola”, frisou Oyintarelado Moses à Lusa.

Os novos objetivos de Pequim coincidem também com uma crise de dívida soberana entre os países mais pobres, face ao impacto económico da pandemia da covid-19, entretanto exacerbado pela guerra na Ucrânia.

“A China está a aproveitar este período para fazer algumas diligências e pensar numa abordagem 2.0” na concessão de crédito ao exterior, assinalou-se no estudo.

“Podemos esperar um pouco mais de diligência e maior foco em países que não têm níveis de endividamento tão altos como alguns dos clientes tradicionais da China”, apontou.

Esta maior aversão ao risco pode significar menos relevância no futuro para o Banco de Desenvolvimento da China e o Exim Bank, que representaram 80% dos empréstimos concedidos pela China aos países africanos, nas últimas duas décadas, segundo o GCI.

“Por definição, os bancos de fomento da China podem assumir mais riscos financeiros e políticos do que os bancos comerciais”, apontou Oyintarelado Moses.

“Mas, em vez de uma tomada completa pelos bancos comerciais, é provável que surja um conjunto mais diversificado de instrumentos de financiamento”, previu o analista, indicando o aumento do financiamento por instituições multilaterais lideradas pela China e fundos de ações, como o Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura e o Fundo da Rota da Seda.

Um estudo publicado em março passado por uma universidade chinesa indicou que Angola é o país do mundo em que o serviço da dívida para credores chineses vai ter, este ano, maior peso na despesa pública.

O país africano vai destinar quase 5% do Produto Interno Bruto (PIB) para pagar juros e amortizar empréstimos contraídos anteriormente a entidades chinesas, de acordo com o relatório divulgado pelo Centro de Finanças e Desenvolvimento Verde da Universidade Fudan, uma das mais prestigiadas universidades chinesas, em Xangai.

Segundo a agência de notação financeira Standard & Poor’s, Angola deve cerca de 21 mil milhões de dólares (17,7 mil milhões de euros) à China.

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