Crimes

Recebidos 78 pedidos de compensação financeira por abusos sexuais na Igreja

Notícias de Coimbra com Lusa | 6 horas atrás em 22-05-2025

 O grupo Vita, criado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) para acompanhar as situações de abuso sexual na Igreja Católica, recebeu, em dois anos, um total de 78 pedidos de compensação financeira.

“O grupo Vita completa hoje dois anos e diria que o balanço é globalmente positivo”, afirmou à Lusa a coordenadora, Rute Agulhas, salientando que foram recolhidos 130 pedidos de ajuda e 78 pedidos de compensação financeira.

Até dia 31 de março, data formal limite para apresentar este tipo de requerimentos, foram feitos “75 pedidos de compensação financeira, 57 destes relativos a dioceses e os restantes relativos a diversas congregações religiosas”, explicou a psicóloga, adiantando que após o fim do prazo, foram recebidos mais três pedidos, o que perfaz um total de 78.

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Deste lote, “até ao dia de hoje, foram já avaliadas 51 pessoas”, com contactos individuais perto das suas zonas de residência.

“As restantes estão agendadas até ao final de julho… [e] voltamos a reiterar o compromisso do grupo Vita de enviar até final de agosto todos os pareceres, todos os relatórios de todas as pessoas que entretanto naturalmente serão avaliadas” para que depois a comissão organizada pela Igreja Portuguesa possa discutir os montantes indemnizatórios.

“Da nossa parte, esta parte do processo fica feita e será perfeitamente viável que a partir de setembro o grupo de fixação das compensações comece a trabalhar”, afirmou Rute Agulhas, considerando que há condições para “corresponder aquele que foi o compromisso da própria Igreja, da própria CEP, que esperava que todos estes processos tivessem concluídos até ao final do ano”.

Criado há dois anos, o início do grupo Vita não foi fácil, admitiu.

“Numa primeira fase, sentimos alguma desconfiança, não só por parte das pessoas de uma maneira em geral, mas sobretudo por algumas estruturas da Igreja”, onde existia “menos disponibilidade” de colaboração, “quase como se o grupo Vita estivesse a impor-se ou ocupar aqui um espaço que algumas estruturas sentiam como sendo delas”, explicou Rute Agulhas.

Esse comportamento persistiu mais nos primeiros meses de funcionamento, mas a “resistência tem vindo a esbater-se de forma gradual”, como é o exemplo de existirem ações de capacitação em 13 das 21 dioceses portugueses, a que se somam iniciativas em alguns institutos de vida consagrada.

“Até ao dia de hoje temos 130 pedidos de ajuda, na sua maioria mantém-se o perfil de pessoas mais velhas, pessoas que já foram abusadas há algumas décadas no contexto da Igreja”, disse.

No caso das vítimas, os pedidos dependem “muitas vezes do mediatismo que a comunicação social também vai dando a estes processos”, com picos expressivos, como é a vinda do Papa Francisco por ocasião da Jornada Mundial da Juventude ou de cada vez que são apresentados dados.

Das 130 vítimas, três dezenas têm um “acompanhamento psicológico regular” no quadro do grupo Vita, acrescentou.

Quanto às ações de sensibilização e capacitação, até ao momento, foram abrangidas nestas ações mais de 3.600 pessoas de vários setores, referiu.

“No que diz respeito à investigação, o grupo Vita tem salientado a importância de se fazer aqui um diagnóstico desta realidade para melhor saber, intervir e para melhor saber prevenir”, explicou Rute Agulhas.

O grupo concluiu três estudos, apresentados em janeiro, mas existem ainda outros projetos em fase de conclusão, relacionados com prevenção primária, como será o programa “Girassol”, um “jogo digital para crianças dos 10 aos 12 anos”, que será apresentado no externado São José, em Lisboa, no final de setembro.

O jogo segue as “melhores práticas pedagógicas” e procura “criar uma Igreja mais segura e mais protetora”.

Para 27 de novembro, está previsto um congresso internacional sobre o tema em Fátima, para tentar “pensar um pouco o papel da Igreja Católica, não só na prevenção, mas também na resposta à violência sexual”, disse a dirigente.

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