Um rastreio nacional à diabetes tipo 1 na população pediátrica revelou que uma em cada 300 crianças já estava a desenvolver a doença silenciosamente e que três em cada quatro menores com sinais precoces da doença não têm histórico familiar.
O rastreio pioneiro em Portugal, integrado no projeto europeu EDENT1FI, foi realizado pela Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), através da campanha “O seu filho tem um dedo que adivinha”, e envolveu 10.000 crianças entre os 3 e os 17 anos, que foram rastreadas em escolas, eventos e coletividades infantojuvenis, centros de saúde e hospitais de todo o país ao longo de quase 14 meses.
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Os dados, apresentados hoje no 7º. Congresso Nacional da APDP, em Lisboa, indicam que a prevalência da diabetes tipo 1 em estadio pré-clínico (definido pela presença de dois ou mais anticorpos) foi de 0,33%, o que significa que uma em cada 300 crianças rastreadas já está a desenvolver a doença de forma silenciosa, antes do aparecimento de qualquer sintoma.
“Estes resultados marcam uma mudança de paradigma na forma como abordamos a diabetes tipo 1, principalmente porque desafiam a perceção comum de que a DT1 é uma doença primariamente hereditária e inevitável”, afirma o diretor Clínico da APDP, João Raposo, citado em comunicado.
João Raposo salienta que, pela primeira vez, se conseguiu identificar em Portugal, em larga escala, “crianças nos estadios muito iniciais da doença, muito antes de apresentarem sintomas”.
Segundo o especialista, “esta ‘janela de oportunidade’ é crítica”, sublinha o especialista.
“Sabemos que a maioria dos casos surge de forma esporádica. Um rastreio populacional permite-nos identificar estas crianças, anos antes dos primeiros sintomas e, mais importante, antes de complicações graves, e potencialmente fatais, que infelizmente ainda marcam o diagnóstico de muitas crianças”, acrescenta Raquel Coelho, pediatra e coordenadora médica do Departamento de Crianças e Jovens da APDP.
As conclusões do estudo destacam a importância do rastreio e diagnóstico precoces, uma vez que a diabetes tipo 1 é uma doença autoimune crónica em que o próprio sistema imunitário do corpo destrói progressivamente as células produtoras de insulina. Este processo inicia-se anos antes dos sintomas.
“Ao identificar as crianças em risco antes desta fase, é possível iniciar um acompanhamento médico e educacional que previne as complicações agudas, melhora a gestão da doença e reduz o enorme impacto clínico e psicossocial da doença na criança e na sua família”, salienta a APDP.
Segundo a associação, as crianças identificadas em estadios precoces da DT1 através do rastreio foram integradas no programa de seguimento “EDENT1FI FOLLOW”, para receberem acompanhamento ajustado ao seu nível de risco, educação terapêutica e apoio psicossocial, garantindo uma entrada muito mais segura e controlada na vida com a doença.
O projeto EDENT1FI é uma colaboração europeia que envolve 28 parceiros de 13 países, incluindo instituições académicas, indústria e associações de doentes.
É apoiado pela Parceria Conjunta da Iniciativa de Saúde Inovadora (IHI JU), pelo programa Horizonte Europa da União Europeia e por outras organizações privadas e filantrópicas.
“Em Portugal, foi implementada a iniciativa ‘O seu filho tem um dedo que adivinha’, que atingiu com sucesso a sua meta de dez mil rastreios (inicialmente definida para os quatro anos de duração da campanha) em apenas 14 meses”, salienta a APDP.
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