A ideia de que cortar ou rapar os pelos faz com que cresçam mais grossos, mais escuros ou mais fortes continua a ser amplamente difundida , mas não tem qualquer base científica.
Na realidade, os pelos são compostos apenas por proteínas e não possuem qualquer ligação nervosa ou vascular na parte visível, o que significa que ao serem cortados, não enviam qualquer “sinal” à raiz que altere o seu crescimento. Por isso, qualquer corte feito na haste do pelo (a parte que sai da pele) não tem impacto na sua raiz, onde se dá a produção do novo pelo, segundo o Hospital Lusíadas.
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A ilusão de que os pelos crescem mais fortes após serem rapados deve-se à sua forma natural. O pelo é geralmente mais fino na ponta e mais grosso na base — o que confere uma sensação de aspereza quando é cortado rente à pele. À medida que cresce, vai recuperando a sua maleabilidade, voltando a parecer mais fino.
Outro fator que reforça este mito é a puberdade. É comum associar o endurecimento dos pelos ao ato de os cortar, quando na verdade essa mudança está ligada ao próprio desenvolvimento hormonal dos adolescentes. Mesmo que não rapassem, os pelos iriam tornar-se mais espessos com o tempo.
Importa ainda esclarecer que, embora cortar os pelos não interfira com a velocidade ou espessura do crescimento, pode ter outros efeitos: pode aumentar a probabilidade de pelos encravados, mudar ligeiramente a orientação do crescimento e afetar a saúde da pele da zona em causa.
Em resumo, rapar os pelos não os torna mais fortes. É apenas um mito que persiste, talvez por falta de informação ou pela sensação enganadora do toque do pelo recém-cortado.
Quanto ao risco de cortar os pelos púbicos, esta é uma das dúvidas mais comuns: se remover totalmente os pelos púbicos aumenta o risco de infeções sexualmente transmissíveis (IST). A resposta, segundo os especialistas, é clara: não existe uma relação direta comprovada entre a ausência de pelos púbicos e o risco acrescido de IST.
Apesar da vasta quantidade de conselhos, mitos e advertências que circulam — especialmente na internet —, a escolha de depilar ou não a zona íntima é uma decisão pessoal, sem fundamento clínico obrigatório. No entanto, tal como em qualquer outro procedimento que envolva a pele, é importante ter alguns cuidados básicos: evitar cortes, garantir a limpeza dos instrumentos utilizados, prevenir queimaduras com cera quente e estar atento a eventuais sinais de infeção ou irritação.
Alguns estudos têm apontado para uma maior prevalência de vírus como o HPV, clamídia ou herpes genital em mulheres que fazem depilação total. No entanto, os próprios investigadores admitem limitações metodológicas, e sublinham que correlação não é o mesmo que causa-efeito. De facto, pessoas que optam por este tipo de depilação tendem a ser, em média, mais jovens e sexualmente mais ativas — o que, por si só, já constitui um fator de risco independente.
A única associação direta e comprovada entre a depilação púbica e uma condição sexualmente transmissível é, curiosamente, a redução dos casos de pediculose púbica (mais conhecida como “chatos”).
Para além das questões físicas, os especialistas alertam ainda para um impacto indireto mais preocupante: a pressão estética sobre a aparência da vulva. A remoção total dos pelos leva a uma maior visibilidade das estruturas genitais e, com isso, ao crescimento da procura por cirurgias íntimas — muitas vezes feitas por mulheres com genitália perfeitamente normal, mas levadas a crer que há algo “errado” com o seu corpo.
Em suma, de acordo com Pedro Vieira Baptista, ginecologista e obstetra do Hospital Lusíadas Porto, não há razões clínicas para condenar nem promover a depilação integral. Trata-se de uma escolha íntima e individual, que deve ser feita com informação e segurança, não com medo ou culpa.
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