Opinião
Quo Vadis” e o massacre dos Cristãos
Não há como ver as coisas de outra forma, os Cristãos estão a ser alvo de uma das mais violentas e sangrentas perseguições de que há memória. No Iraque, na Síria, no Quénia, na Líbia, no Paquistão, na Nigéria e em tantos outros locais, os Cristãos estão a ser massacrados única e exclusivamente pela sua fé. A recente barbárie numa universidade do Quénia, onde 148 jovens perderam a vida, é apenas o mais recente capítulo desta triste e sangrenta história.
Tão preocupante como este genocídio é, sem dúvida, a indiferença do Ocidente sobre a matéria. O Papa Francisco, certeiro como sempre, disse-o com todas as letras na sua mensagem de Sexta-feira Santa: “Existe um silêncio cúmplice”. Sim, cúmplice é uma palavra muito forte, mas não foi dita ao acaso.
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A sociedade ocidental conseguiu níveis de bem-estar e de qualidade de vida nunca antes atingidos. Comparativamente ao passado, a nossa segurança é elevada, as nossas preocupações são bem diferentes das que se faziam sentir na Europa de outrora. Fomos acumulando grandes sucessos civilizacionais, igualdades foram conquistadas, direitos fundamentais foram salvaguardados e, em cima de cada progresso, damos de imediato passos para a conquista do seguinte. Tal qual uma construção em andares, todas as nossas conquistas assentam numa base – O respeito pelo valor da vida. Quando não valorizamos devidamente ataques ao alicerce é uma questão de tempo até toda a construção ruir.
Lembram-se do Zico, um cão que matou uma criança em Beja? Ou do Excalibur, o inocente canino cuja dona foi infectada pelo vírus do Ébola? Lembram-se da onda de solidariedade, as petições, a revolta pela possibilidade de os cães serem abatidos? Nada contra quem se mobiliza pelos direitos dos animais, antes pelo contrário, a defesa dos animais foi uma destas conquistas que referi, temos de a preservar. Mas há que refletir sobre o porquê das vidas do Zico e do Excalibur mobilizarem mais a opinião pública que a chacina de 150 jovens africanos. Penso que nós (sociedade ocidental) o fazemos de forma inconsciente, mas a realidade é que se verifica uma enorme discrepância de mobilização, e isso pode fazer toda diferença. A nossa apatia permite a indiferença da comunidade internacional, a nossa mobilização possibilitaria acção.
Esta Páscoa, como tem sido habitual, passou o filme “Quo Vadis” na televisão portuguesa. Uma história triste de como os primeiros cristãos foram massacrados em Roma. Fui assaltado por um pensamento arrepiante: A realidade dos dias de hoje está demasiadamente próxima da vivida há 2000 anos atrás.
Apesar de saber que esta é uma causa de todos, pois a compaixão é universal, aproveito uma passagem do filme para apelar aos que, como eu, são Cristãos. Em dado momento do filme, São Pedro está a sair de Roma quando Cristo lhe fala: “O meu povo em Roma precisa de ti, se os abandonares, terei de ir Eu e ser crucificado uma segunda vez”.
Não pude deixar de sentir que nós, os cristãos de hoje, com o tal silêncio cúmplice que o Papa Francisco falou, estamos também a abandonar estes inocentes. Precisamos nós que Cristo seja crucificado uma segunda vez? Ou vamos todos fazer ouvir a nossa voz?
FERNANDO MARTINS ALVES
Vice-Presidente da Distrital de Coimbra do CDS-PP
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