A forma como acordamos pode determinar como nos sentimos durante o resto do dia — e, afinal, o processo de passar do sono à vigília é muito mais complexo do que se pensava.
Um novo estudo, publicado na Current Biology, revela que o despertar é uma “marcha cerebral” cuidadosamente coordenada. Liderada por investigadores suíços, a equipa analisou mais de mil despertares — tanto naturais como provocados por alarmes — em 20 participantes com 256 sensores de EEG colocados no couro cabeludo.
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“Acordar é uma onda ordenada de ativação que se move da frente para trás do cérebro”, explicou Rachel Rowe, neurocientista da Universidade do Colorado, que comentou a pesquisa. A equipa descobriu que o estado de alerta começa nas regiões frontais do cérebro — ligadas à tomada de decisões — e só depois se propaga até às zonas visuais, na parte de trás.
Mas nem todos os despertares são iguais. “O cérebro responde de forma diferente aos estímulos, consoante a fase do sono em que se encontra”, disse Stephan, coautor do estudo. Quando acordamos do sono REM — associado aos sonhos mais vívidos — o cérebro entra rapidamente em modo ativo. Já no sono não-REM, o processo é mais lento, devido à chamada biestabilidade dos neurónios, que alternam entre estados de silêncio e atividade.
Essa diferença explica por que, às vezes, acordamos bem dispostos e, noutras, como se tivéssemos sido atropelados por um camião. “Algumas ondas lentas funcionam como um sinal de alerta, outras são responsáveis pela sensação de sonolência ao acordar”, afirmou Stephan. O timing dessas ondas pode ser a chave para evitar despertares difíceis.
Para além de explicar a nossa relação com o despertador, esta descoberta pode ter implicações clínicas importantes. O estudo poderá abrir caminho para melhorar diagnósticos e tratamentos de distúrbios como a insónia, a apneia do sono ou as parassónias.
“Este estudo oferece uma nova janela para uma das transições mais fundamentais da consciência humana”, conclui Stephan.
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