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Qual o segredo das pessoas que nunca contraíram Covid-19?

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 1 hora atrás em 12-12-2025

Passados mais de três anos desde a primeira infeção conhecida por COVID-19, o mundo contabiliza centenas de milhões de casos e a maioria da população já terá contraído o vírus pelo menos uma vez. Apesar disso, continua a existir um grupo reduzido de pessoas que, ao que tudo indica, nunca foi infetado — mesmo considerando infeções assintomáticas.

A ciência ainda não conseguiu explicar totalmente este fenómeno. Em 2020, o esforço global para compreender o SARS-CoV-2 e desenvolver vacinas avançou a uma velocidade inédita. No entanto, manter um nível tão elevado de financiamento e colaboração tem-se revelado difícil.

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Uma das principais iniciativas científicas nesta área, o COVID Human Genetic Effort, liderado por investigadores nos Estados Unidos, está a estudar indivíduos que, apesar de expostos ao vírus — como profissionais de saúde ou pessoas que partilhavam casa com infetados —, nunca testaram positivo.

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O objetivo é analisar o ADN destes participantes em busca de mutações raras que possam conferir resistência à infeção. Essas alterações genéticas podem afetar, por exemplo, recetores celulares utilizados pelo vírus para entrar no organismo, enzimas envolvidas no processo de infeção ou elementos-chave da resposta imunitária, pode ler-se no The Conservation.

Investigações semelhantes já permitiram identificar mutações que tornam algumas pessoas naturalmente resistentes a infeções como o HIV ou o norovírus. Em teoria, compreender esses mecanismos poderia ajudar no desenvolvimento de novas formas de prevenção. No entanto, a realidade é mais complexa.

Apesar de conhecerem as mutações genéticas que protegem contra o norovírus, os cientistas ainda não conseguiram desenvolver uma vacina eficaz contra este vírus. Além disso, experiências controversas de edição genética, como os “bébés CRISPR”, levantaram sérias questões éticas e legais.

Há ainda a hipótese de a resistência à COVID-19 não depender de uma única mutação, mas sim de uma combinação de alterações genéticas difíceis de replicar ou manipular sem riscos. Assim, embora estes estudos possam revelar informações valiosas sobre o funcionamento do vírus, o seu impacto clínico imediato pode ser limitado.

Enquanto a investigação avança, muitos especialistas alertam que a obsessão com a imunidade genética pode desviar atenções de problemas mais urgentes.

As vacinas reduziram significativamente a gravidade da doença na maioria dos casos, mas o SARS-CoV-2 continua em circulação e a sofrer mutações. Paralelamente, estima-se que cerca de dois milhões de pessoas no Reino Unido sofram de COVID longa, sendo que quase 20% relatam limitações sérias nas suas atividades diárias.

Apesar de existirem teorias — como a presença de microcoágulos ou inflamação persistente —, ainda não se sabe por que razão algumas pessoas desenvolvem sintomas prolongados e outras não. Assim, alguns investigadores defendem que o foco científico deveria deslocar-se para a possível predisposição genética à COVID longa, uma condição crónica com impacto significativo na qualidade de vida.

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