Um vereador do PS na Câmara de Coimbra sugeriu que o município içasse as bandeiras de Israel e da Palestina, para se associar ao reconhecimento dos dois Estados, mas o presidente da autarquia rejeitou, pela “complexidade” da questão.
“Assim como muitas bandeiras da Ucrânia e as cores da Ucrânia foram içadas, permita-me sugerir [içar] as bandeiras da Palestina e de Israel, elevadas lado a lado, agora que se aproxima a data de setembro de 2025 [altura em que vários países deverão reconhecer o Estado palestiniano]”, sugeriu o vereador socialista André Dias Pereira, durante a reunião do executivo.
Para o vereador na oposição, Coimbra poderia assim associar-se “humildemente à importância da proteção do Estado de Israel e proteção da Palestina e reconhecimento do Estado da Palestina”.
PUBLICIDADE
Durante a sua intervenção, André Dias Pereira repudiou o “sofrimento humano que está a ser vivido na Faixa de Gaza e em aldeias e cidades da Cisjordânia”, considerando que são necessárias lideranças corajosas e que assumam a solução dos dois Estados.
O vereador do PS repudiou também a “organização terrorista do Hamas”, mas considerou que Coimbra deve ter uma palavra, como no passado também a assumiu em relação à Ucrânia.
“Face à ilegal invasão da Ucrânia, em que muitas ações foram lideradas pelo presidente da Câmara, seria oportuno o município ter manifestações de apoio à solução dos dois Estados”, vincou.
Questionado pela agência Lusa no final da reunião, o presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, recusou a sugestão do PS por ser uma questão “excessivamente complexa”.
O presidente do município, que anda regularmente com um pin com as cores ucranianas, considerou que na guerra da Ucrânia “há um claro invasor e um invadido”, entendendo que, no caso da Faixa de Gaza, “é uma guerra demasiado complexa e polémica”.
O autarca, eleito pela coligação Juntos Somos Coimbra (PSD/CDS/NC/PPM/A/V/R), salientou que está preocupado “com todas as guerras”, justificando a assunção de posições relativamente à Ucrânia por ser uma guerra que põe “em causa a liberdade, a democracia e o estilo de vida ocidental na Europa”.
“A Câmara de Coimbra não deve, nesta fase, tomar uma posição sobre aquilo que se passa no Médio Oriente”, vincou.
Questionado sobre se uma possível posição em relação à Faixa de Gaza poderia pôr em causa um esforço de atração de empresas de Israel para Coimbra, José Manuel Silva salientou que essas “pessoas não se reveem na política atual do Governo israelita e não há problemas nenhuns relativamente a essa matéria”.
A questão da Palestina tem sido sobretudo abordada de forma regular nas reuniões de Câmara pelo vereador da CDU, Francisco Queirós, que hoje voltou a manifestar a sua indignação face à “tragédia” no território palestiniano.
“Impõe-se a condenação firme, inequívoca do genocídio em Gaza e na Cisjordânia e o imediato reconhecimento do Estado da Palestina”, defendeu.
“Não podemos ficar ‘caladinhos como a nêspera que estava na cama, deitada, muito calada, a ver o que acontecia’ [citando Mário Henrique Leiria]. Basta! Lá fora, à nossa volta, há um mundo terrível que pode caminhar para o desastre. Há Gaza – onde crianças morrem à fome”, vincou.
A situação de fome em Gaza e nas cidades vizinhas afeta mais de meio milhão de pessoas, segundo a ONU.
Israel tem em curso uma ofensiva militar na Faixa de Gaza, que já levou à morte de mais de 60 mil pessoas (a maioria civis).
A ofensiva surgiu após um ataque do Hamas em 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e 250 reféns.
PUBLICIDADE