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Projeto de Coimbra lança exposição virtual para dar voz a crianças com pais presos

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 11-05-2020
O projeto Trampolim, sediado em Coimbra, lançou uma exposição virtual com fotografias tiradas por crianças e jovens com pais em situação de reclusão, procurando dar voz a uma problemática pouco visível.

A galeria virtual  tem como nome “Reclus@ 008”, expondo o trabalho fotográfico de oito crianças e jovens de Coimbra que, a partir de fotografias tiradas pelos próprios, procuram expressar memórias e emoções sentidas no processo de reclusão dos seus pais e mães.

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Para além das fotografias, surgem também testemunhos das próprias crianças.

“A forma que tive para lidar com isto foi fazer algumas asneiras para chamar à atenção”, “Quando tinha nove anos, um guarda quis algemar-me, mas o meu pai não deixou e a seguir os polícias bateram nele”, “Não estou acostumado a estar com a minha mãe, é bom quando ela vem, pior é quando regressa à prisão”, lê-se na galeria.

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A iniciativa surgiu no âmbito da criação do Núcleo de Intervenção Infanto-Juvenil (NIIJ) pelo Projeto Trampolim (financiado pelo Programa Escolhas), que tem como objetivo abordar as dificuldades emocionais e relacionais das crianças e jovens com pais e mães em situação de reclusão, afirmou à agência Lusa a coordenadora do Trampolim, Carla Mendes.

O núcleo foi criado em 2019, depois de o Trampolim, que trabalha desde 2004 no Centro de Estágio Habitacional do Bolão, Bairro da Rosa e Ingote, ter identificado “a problemática associada aos comportamentos relacionais” com jovens com pais e mães presos, explicou.

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“Na escola, quando relatavam problemas de comportamentos agressivos ou de a criança não ter estado bem, íamos associando à situação dos pais estarem em reclusão. Por exemplo, houve uma rusga e é natural que a criança não esteja emocionalmente bem para ir para a escola no dia seguinte e os professores desconheciam essa situação”, notou Carla Mendes.

Dificuldades em visitar os pais, problemas com o limite do número de pessoas por visita na prisão, ou revistas na prisão não estarem adaptadas às crianças são outros dos problemas que o projeto foi identificando.

Face a todas essas problemáticas, o Trampolim decidiu fazer um levantamento e identificou 24 crianças e jovens com pais em situação de reclusão, apenas na sua área de intervenção, referiu Carla Mendes, esclarecendo que o número depois subiu para os 41 casos identificados.

Entretanto, foi constituída uma rede, onde participam, entre outros, Câmara Municipal de Coimbra, CASPAE 10 – Centro de Apoio Social dos Pais e Amigos da Escola n.º 10, Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Coimbra, Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, Cáritas, Agrupamento de Escolas Rainha Santa Isabel ou a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.

Ao longo da iniciativa, foi realizado também um ‘focus group’ com 24 profissionais de diferentes áreas para abordar a questão e, ao mesmo tempo, um projeto que desse voz às crianças e jovens, com recurso à fotografia.

Antes de tirarem fotografias, as crianças participaram numa sessão com um testemunho de “alguém reconhecido na sociedade portuguesa que teve vários familiares em situação de reclusão” e, posteriormente, foi-lhes atribuída uma máquina fotográfica descartável e foram até à Baixa de Coimbra, com uma pessoa da área da fotografia, para “perceber como tirar fotografia, mas também o significado atribuído à imagem”, aclarou a coordenadora.

“Deixámos as máquinas com eles e, passado uma semana, recolhemos as máquinas e fomos revelar. Depois, selecionaram as fotografias para a exposição, atribuindo um título e uma descrição da mesma”, contou Carla Mendes.

A exposição era para ser presencial, mas, face à pandemia da covid-19, o projeto decidiu avançar, para já, com uma galeria virtual, sendo que, quando estiverem reunidas as condições necessárias, o projeto pretende criar uma exposição presencial.

“Acreditamos que estas oito crianças e jovens representam centenas de milhares. Não são únicos. A nossa grande intenção é ver políticas sociais a serem alteradas, pequenas coisas que façam a diferença na vida destas crianças e jovens”, vincou Carla Mendes.

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