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Professor de Coimbra prevê que Portugal volte a assistir a momentos de forte mobilização popular

Notícias de Coimbra | 10 anos atrás em 01-04-2014

Quarenta anos depois do 25 de Abril e impulsionados pelas políticas de austeridade, pelo desemprego e pela pobreza, os portugueses voltaram às ruas, protagonizando, ainda que pontualmente, momentos de “intensa mobilização”.

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A análise é do investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra Elísio Estanque, que traçou em entrevista à agência Lusa o retrato das últimas quatro décadas dos movimentos sociais em Portugal.

No período pós 25 de Abril de 1974, despontou “uma série de dinâmicas e movimentos sociais de vários tipos em Portugal”, que se foram esbatendo ao longo dos anos.

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“O que aconteceu ao longo dos últimos 40 anos foi uma institucionalização da democracia que conduziu a uma regulação maior da democracia representativa”, disse o sociólogo.

O próprio movimento sindical, que terá sido o motor principal das dinâmicas do pós 25 de Abril, institucionalizou-se e foi-se ajustando às lógicas da democracia formal.

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“Tirando esse período extraordinário de experiência democrática nessa primeira fase do pós 25 de Abril, Portugal não é particularmente rico em movimentos sociais muito fortes, nem sequer muitos radicalizados”, salientou Elísio Estanque.

No entanto, nos meados dos anos 80, houve algumas “experiências marcantes”, como o aparecimento de movimentos ambientalistas que protagonizaram alguns “momentos intensos” na luta contra o nuclear.

Os movimentos feministas também surgiram de “uma forma algo atabalhoada” e “muito misturados com as ações do campo sindical”.

Analisando o período mais recente, desde o último governo PS, liderado por José Sócrates, Elísio Estanque disse que Portugal tem assistido “a vários momentos de intensa mobilização popular, muito à margem das organizações tradicionais, dos partidos políticos e dos sindicatos”.

Esta mobilização foi motivada pelas sucessivas medidas de austeridade e pela entrada da ‘troika’ em Portugal, na sequência da ajuda financeira que tem estado a ser prestada a Portugal, desde 2011, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Comissão Europeia e Banco Central Europeu.

Apesar de serem “relativamente pontuais, tivemos algumas experiências que foram marcantes e intensas”, disse Elíso Estanque, apontando a manifestação “Geração à Rasca”, que aconteceu a 12 de março de 2011 e reuniu 300 mil pessoas em todo o país.

“Foi realmente uma experiência inovadora neste contexto de crise e nos países do sul da Europa”, que aconteceu na sequência de ações que tinham ocorrido na Grécia.

Esta mobilização portuguesa teve continuidade com o movimento dos indignados em Espanha e, posteriormente, com o movimento de protesto Occupy Wall Street, que nasceu em Nova Iorque para protestar contra as desigualdades económicas e sociais.

“É uma nova geração de movimentos sociais em que Portugal também tem estado a participar, embora sejam bastantes distintos de outros movimentos de massa dos anos 60 e 70”, observou Elísio Estanque.

Estes movimentos têm outra lógica: “Lidam muito com as novas formas de comunicação”, nomeadamente as redes sociais, uma situação que é comum nos últimos anos em todos os continentes.

“São respostas das gerações mais jovens que veem negada uma perspetiva de emprego e de futuro”, explicou.

Os jovens encaram esta situação com “um sentimento de grande frustração”, porque percebem que não têm as oportunidades que os pais e avós tiveram e “não vislumbram uma possibilidade de aceder a um modo de vida, a uma situação laboral e a um projeto profissional digno desse nome”, referiu.

No caso europeu, disse ainda o sociólogo, a questão do emprego está no centro das mobilizações, mas também o “problema da subtração de alguns direitos que tinham sido consignados ao longo de muitas lutas e de muitos movimentos desde a II Guerra Mundial”.

“De repente, entrou-se em retração, em recuo, em regressão”, o que gera um sentimento de frustração, frisou.

Nas últimas décadas, surgiram novas profissões na Europa e construiu-se “uma ideia de alguma estabilidade, de alguma progressão e de alguma mobilidade social ascendente”.

“O próprio sistema, as elites governantes e dominantes foram alimentando essa ideia de que a sociedade democrática é aquela que dá oportunidades na base do mérito, do talento e das qualificações”, disse Elísio Estanque.

Contudo, nos últimos três anos esses valores têm sido “violentamente negados e retirados”, o que leva à revolta das pessoas, acrescentou.

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