Professor de Coimbra defende investimento na ferrovia após descarrilamento em Mortágua

O descarrilamento de um comboio, no domingo, em Mortágua, que terá resultado essencialmente da instabilidade dos terrenos na zona, onde “os deslizamentos são recorrentes”, demonstra a necessidade de investimento no setor ferroviário, defende um investigador da Universidade de Coimbra.
PUBLICIDADE
Os incêndios florestais de 2017 terão contribuído para reduzir a “capacidade de infiltração e facilitado o escoamento à superfície” das águas, potenciando, naturalmente, a instabilidade do solo, mas, disse hoje à agência Lusa o geólogo Alexandre Tavares, “nos últimos tempos tem havido recorrente instabilidade” por “descompressão mecânica dos materiais”, naquela a área, “onde já existem evidentes trabalhos de estabilização”.
Embora não conheça “em particular o local, nem os aspetos específicos que levaram a este deslizamento de terras” e consequente descarrilamento de uma composição do comboio Intercidades Guarda-Lisboa, na manhã de domingo, entre Santa Comba Dão e Mortágua, no distrito de Viseu, o investigador do Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) acredita que esta situação “ultrapassa a questão dos incêndios”.
O declive das encostas e “alguma descompressão de materiais à superfície, bem como a perda do coberto vegetal, pode ter contribuído para o agravamento da instabilidade”, considera Alexandre Tavares.
Os “processos físicos, a pouca aptidão geotécnica dos terrenos e a hidrofobicidadade [repelência da água no solo] podem ter fomentado a mobilização de algumas dezenas de metros cúbicos de rocha e solos”, sublinha.
Em todo este tipo de taludes de escavação (ou encostas escavadas para a abertura da linha férrea) “devem ser monitorizadas e analisadas as movimentações e as descompressões mecânicas”.
À medida que decorre o tempo e aumenta o seu uso, é necessária “cada vez mais atenção a estas zonas de debilidade”, adverte.
Este caso vem demonstrar, “uma vez mais”, a necessidade de uma ferrovia que possa ser alternativa, neste tipo de situações, à Linha da Beira Alta, que é a ligação do sistema ferroviário nacional ao exterior, sustenta o professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Coimbra.
As comunicações internacionais do sistema ferroviário nacional não podem estar tão dependentes de uma só via, tanto mais que a Linha da Beira Alta está muito exposta a este tipo de ocorrências, designadamente na região de Mortágua, para além de outro tipo de situações como, por exemplo, neve.
Daí a importância de reabilitar a Linha da Beira Baixa entre Covilhã e Guarda, para voltar a permitir as ligações entre Lisboa e Guarda, por Abrantes e Castelo Branco, destaca Alexandre Tavares, congratulando-se com o facto de os trabalhos naquele lanço da via (onde a circulação está encerrada desde 2009) terem sido lançados esta semana.
As obras de reabilitação e modernização, que incluem a construção da ‘Concordância das Beiras’, no troço de ligação entre as linhas da Beira Alta e da Beira Baixa, foram consignadas na segunda-feira e envolvem um investimento global da ordem dos 77 milhões de euros, devendo ser executado até antes do final de 2019 (18 meses).
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
You must be logged in to post a comment.