Política

Primeiros meses de Luís Montenegro marcados por aeroporto e sombra do Chega

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 09-10-2022

Luís Montenegro completa na segunda-feira cem dias como presidente do PSD, marcados por um entendimento com o Governo quanto à metodologia para o futuro aeroporto, e com a unidade interna apenas ‘beliscada’ pela relação com o Chega.

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Nos primeiros três meses, o novo presidente do PSD afastou por toda a legislatura um referendo à regionalização e quis apostar na antecipação ao Governo: apresentou as linhas gerais de um programa de emergência social em agosto e as prioridades do partido no Orçamento do Estado para 2023 ainda antes de a proposta do executivo ser entregue no parlamento.

No seu arranque como líder da oposição, Luís Montenegro teve uma agenda política intensa – segundo o próprio já percorreu mais de 40.000 quilómetros – e iniciou o cumprimento de uma promessa que fez no Congresso: passar uma semana por mês em cada distrito do país, começando em setembro por Viseu e continuando na próxima semana em Évora, numa iniciativa a que chamou “Sentir Portugal”.

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Depois de uma derrota em 2020 contra Rui Rio, o antigo líder parlamentar social-democrata foi eleito em diretas em 28 de maio com 72,5% dos votos, contra Jorge Moreira da Silva, e formalmente empossado em funções em 03 de julho.

Nessa reunião magna no Porto, Montenegro surpreendeu ao escolher como ‘vices’ dois ex-candidatos à liderança: o eurodeputado Paulo Rangel e o vice-presidente da Câmara de Cascais Miguel Pinto Luz, que tinha concorrido contra si dois anos antes.

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A unidade interna conseguida nesse Congresso – elegeu a sua direção com mais de 90% dos votos e tem uma maioria confortável no Conselho Nacional, o ‘parlamento’ do partido – tem-se mantido, à exceção de algumas brechas na bancada social-democrata, escolhida pelo anterior líder, Rui Rio.

O primeiro sinal foi dado na eleição do presidente do grupo parlamentar, Joaquim Miranda Sarmento, uma escolha de Montenegro, que optou por não renovar a confiança no anterior presidente da bancada, Paulo Mota Pinto, que tinha sido eleito em abril, com mais de 90% dos votos.

A votação do novo líder parlamentar caiu para menos de 60% de votos favoráveis, apesar de ter alargado a direção e integrado alguns ‘rioístas’ como Hugo Carneiro ou Catarina Rocha Ferreira, com 30 dos 77 deputados do PSD a votarem branco ou nulo.

A desconfiança de parte da bancada voltou a fazer-se sentir há poucas semanas, quando Miranda Sarmento, por indicação de Montenegro, apelou aos deputados do PSD para votarem no candidato indicado pelo Chega a uma vice-presidência da Assembleia da República.

O pedido foi justificado pelo presidente do PSD com a tradição de as quatro maiores forças políticas terem um ‘vice’ do parlamento, mas os resultados da votação secreta mostraram que nem toda a bancada tem esse entendimento, e cerca de um terço não terá seguido as indicações do líder.

Os críticos desta estratégia – que Montenegro recusa que seja de aproximação ao Chega, depois de ter dito no Congresso que nunca se associaria a “políticas racistas ou xenófobas” – não deram, por enquanto, a cara e o único Conselho Nacional desta liderança decorreu de forma pacífica.

Montenegro tem procurado, aliás, contrapor a estabilidade no PSD com o que classifica de “desnorte e desorientação” no Governo, que tem acusado repetidamente de “empobrecer” o país e de estar esgotado, perante as dezenas de casos que se foram sucedendo em apenas seis meses de maioria absoluta.

As críticas mais violentas ao executivo de António Costa centraram-se na forma de aumento das pensões – dividida entre meia pensão extra paga já em outubro e aumentos para 2023 abaixo da fórmula de cálculo em vigor -, com o líder do PSD a acusar o primeiro-ministro de “ilusionismo” e de fazer um corte permanente de mil milhões aos reformados.

Apesar das críticas, o líder do PSD prometeu ajudar o Governo “a encarreirar” quando estiver em causa o interesse nacional, enquadrando desta forma o acordo a que chegou com António Costa quanto à metodologia para a futura solução aeroportuária da região de Lisboa.

Depois de várias trocas de palavras duras com o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e de alguns meses em que o PSD ouviu dezenas de personalidades sobre o tema, sociais-democratas e Governo chegaram a um entendimento no final de setembro que passa por obras urgentes no atual aeroporto e por uma Avaliação Ambiental Estratégia que estude, no prazo de um ano, as várias opções colocadas em cima da mesa pelo executivo e por personalidades independentes e do meio académico.

Ainda assim, Montenegro não se comprometeu com a solução final que venha a resultar das várias comissões criadas, repetindo que “quem tem de governar é o Governo”.

Depois de ter assumido, no Congresso, que é o PSD que tem de convencer as pessoas a voltarem a votar no partido – “não são os eleitores que estão errados” – tem insistido no desejo de “restabelecer relações de proximidade, de intimidade com o país”, apostando no regresso ao terreno e em iniciativas tradicionais do PSD como a Festa do Pontal, onde teve a seu lado o antigo presidente Pedro Passos Coelho.

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