Política

Presidente de Pedrógão Grande ‘ofereceu’ Costa “para casa”; afinal, vai ele

Rui Avelar | 3 anos atrás em 21-05-2021

Quando ‘ofereceu’, há dias, a um vereador do PSD a oportunidade de levar “para casa” António Costa, o presidente da Câmara Municipal de Pedrógão Grande (PS) já teria em mente desistir de se recandidatar à liderança da autarquia.

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Em recente reunião camarária, João Marques (PSD) questionou Valdemar Alves sobre o respetivo relacionamento com o primeiro-ministro e líder do PS e a resposta deixou boquiabertos os membros da vereação. Leva-o “para casa”, disse Alves, cujas palavras eram provável prenúncio da, hoje anunciada, desistência de recandidatura.

O presente desfecho destoa do teor de uma alegada conversa secreta entre o principal autarca pedroguense e António Costa, tida como decisiva para Alves haver aceitado candidatar-se a segundo mandato com o apoio do PS. O assunto merecera, há um mês, a atenção do semanário Novo, cuja primeira edição dera conta dessa alegada conversa.

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O cenário de recandidatura de Valdemar Alves foi ‘chumbado’, a 19 de abril [de 2021], pela Comissão Política da Federação de Leiria do PS, e os sinais recebidos pelo autarca, a ser julgado no âmbito de dois processos (o do catastrófico incêndio de 2017 e o da reconstrução de casas), precipitaram a decisão acabada de anunciar.

Para Alves, (re)candidatar-se “seria pactuar com o ato de abandono do Poder Central” por ele invocado em relação à sub-região do Pinhal Interior.

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Segundo o edil, trata-se de abandono que tem perdurado e “que se mostra imperdoável depois dos trágicos acontecimentos” ocorridos há perto de quatro anos.

Líder da autarquia como independente proposto pelo Partido Socialista, desde o Outono de 2017, Valdemar Alves tinha sido eleito, pela primeira vez, em 2013, no âmbito de uma lista patrocinada pelo PSD.

Há quatro anos, quando o concelho foi flagelado por um catastrófico incêndio florestal,  o antigo presidente social-democrata João Marques – impedido de se recandidatar em 2013 devido a limitação do número de mandatos consecutivos – pôde voltar a perfilar-se e o PSD descartou o cenário de renovação do apoio a Valdemar Alves.

Antigo inspetor da Polícia Judiciária, Valdemar é parente do ex-banqueiro Tomás Correia e conhece, há muitos anos, a mãe de António Costa, Maria Antónia Palla, sendo que antepassados do atual companheiro da jornalista, Manuel Pedroso Marques (co-fundador do PS), também eram naturais de Pedrógão Grande.

Por ocasião da indigitação para se recandidatar, feita, há dois meses e meio, pela Concelhia do PS/Pedrógão, Alves foi elogiado pelo vereador e líder socialista de âmbito local, Nelson Fernandes.

Para o presidente daquela estrutura partidária, o líder do Município reunia condições para prosseguir e mostrara “vontade de continuar o seu trabalho político”. Valdemar Alves foi acusado, no começo deste ano, pelo Ministério Público, que imputou ao autarca cometimento de 11 crimes na sequência do fogo de junho de 2017, sete de homicídio por negligência e quatro de ofensa à integridade física por negligência.

Por outro lado, o arguido está a ser julgado devido a alegadas irregularidades na reconstrução de casas atingidas pelo incêndio; neste processo, foi-lhe deduzida acusação por 20 crimes de prevaricação de titular de cargo político, outros tantos de burla qualificada e falsificação de documento.

Quem semeia ventos…

O ‘chumbo’ por parte da Comissão Política da Federação de Leiria do PS à recandidatura de Valdemar Alves à liderança do Município de Pedrógão Grande ocorreu volvidos dois meses sobre a deliberação tomada por três vereadores no sentido de retirar ao autarca os poderes que a Câmara nele delegara. Em janeiro de 2020, Alves apeara Margarida Guedes (PS) da vice-presidência da autarquia.

A deliberação foi tomada pela vereadora socialista – a quem veio a ser retirada confiança política – e pelos vereadores social-democratas João Marques e Raul Garcia.

A delegação de competências da Câmara ao presidente destina-se a agilizar o funcionamento da autarquia, mas a maioria da vereação entende ter sido posta em causa a outrora “relação de confiança e compromisso entre ambas as partes”.

“Tem-se verificado, muito recorrentemente, e, ultimamente, de forma cada vez mais exacerbada, a prepotência na tomada de decisões pelo presidente em matérias delegadas, sendo que mandariam a transparência e boa-fé trazer [os assuntos] à discussão do executivo camarário”, alega a exposição de motivos, a que Notícias de Coimbra teve acesso, redigida por Margarida Guedes.

Nelson Fernandes, vice-presidente da autarquia durante o último ano e meio do mandato e líder concelhio do PS, alegou que a medida prejudica os munícipes e os potenciais investidores.

A Comissão Concelhia do PS de Pedrógão Grande insurgiu-se contra a posição da vereadora socialista, o que levou Margarida Guedes a usar de ironia para se regozijar por o vice-presidente da Câmara Municipal “finalmente, se ter lembrado” que ela é vereadora eleita pelo partido.

Ao rotular de “pura demagogia” a alegação de prejuízo para o concelho, a vereadora disse a NDC que, por um lado, a natureza da Câmara consiste em órgão colegial e, por outro, é “impossível confiar num presidente que dá e tira pelouros, dá e mantém funções a mais altos funcionários do Município sem enquadramento legal e depois de reprovados em local próprio, admite e/ou suspende pessoas e esbanja dinheiro em projetos”.

Valdemar Alves convidara Margarida Guedes a transitar para a função de diretora da Escola Tecnológica e Profissional da Zona do Pinhal, cujas quotas pertencem à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão (51 por cento) e à autarquia.

Margarida Guedes, que declinou o convite e regressou à docência no ensino público, ponderou outros cenários e acabou por entender “honrar o mandato”, tendo optado por permanecer no executivo camarário como vereadora sem pelouros.

Em recente reunião camarária, Alves ficou sozinho a defender uma proposta da sua autoria para ser erguido um mural de agradecimento à Marinha em reconhecimento pelo trabalho deste ramo das Forças Armadas portuguesas em prol do território de Pedrógão Grande. A abstenção do vice-presidente fez implodir a pretensão de Valdemar Alves e a correlação de forças tornou-se ainda mais difícil para o presidente cessante.

 

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