Coimbra

Poucos sabem, mas Coimbra foi um dos centros do terror da Inquisição

Notícias de Coimbra | 1 hora atrás em 31-12-2025

A cidade de Coimbra teve um papel fundamental na implementação das medidas da Inquisição Portuguesa.

PUBLICIDADE

publicidade

A Inquisição foi criada na Idade Média pelo Papa Gregório IX. O Tribunal do Santo Ofício  surgiu no século XIII com o propósito de colocar um fim às diversas heresias que segundo a visão religiosa colocava em causa a legitimidade do poder eclesiástico e do poder civil.

PUBLICIDADE

O Tribunal do Santo Ofício ficou instalado em diversos países, nomeadamente em Espanha, Alemanha, França. Este tribunal foi confiado aos dominicanos ou aos franciscanos.

No nosso país, a Inquisição também foi desenvolvida. A cidade de Coimbra teve um papel fundamental na implementação das medidas da Inquisição Portuguesa.

O Tribunal do Santo Ofício foi criado como uma “instituição permanente e universal, confiada a religiosos na dependência direta da Santa Sé”. A inquisição perseguia todos os que não seguiam a fé católica. Nenhuma heresia escapava ao fervor religioso do Santo Ofício que tudo fazia para garantir que a fé católica se apresentasse com elevado grau de pureza.

Quem questionasse o poder e a autoridade da Igreja Católica era punido. As pessoas que apresentavam uma posição distinta à revelada por esses religiosos e que fossem vistos como pecadores sofriam consequências. A igreja impunha a sua força de forma violenta e cruel.

Este tribunal pretendia inquirir todos os responsáveis por desvios da fé católica, das heresias e das demais práticas pagãs. Este tribunal eclesiástico aceitava todas as denúncias. Bastava uma carta anónima para alguém ser suspeito e ser inquirido. Um simples boato poderia servir como facto suficientemente sólido para dar início a um processo inquisitorial que permanecia secreto para a maioria.

Havia centenas de pessoas ao serviço dos inquisidores. Além de terem à disposição uma rede generosa de informadores a quem podiam retribuir as informações com recompensas e privilégios (nomeadamente, a isenção de pagar impostos, entre outras), eles tinham poderes quase ilimitados. Os inquisidores podiam prender, julgar, castigar e torturar.

Trabalhar para a Inquisição era visto como uma promoção social.

Havia diferentes formas de levar os suspeitos a serem condenados pelos seus crimes. Eles eram interrogados para se conseguir obter a prova que se procurava. O depoimento de testemunhas, cuja identidade era mantida em segredo, era outro procedimento comum. A realização de torturas também servia como meio para chegar ao fim pretendido: a confissão dos suspeitos.

Independentemente do procedimento que levava os suspeitos a serem condenados, a sentença era realizada numa sessão solene pública. Esse momento ficou designado como auto de fé. Toda a gente podia assistir ao momento, que era encarado como um espetáculo.

Podia haver diferentes sentenças. Algo que podia variar entre morte ou prisão, penitências ou apreensão de bens. Muitas das pessoas foram condenados à pena de morte nas fogueiras da Inquisição.

A Inquisição também surge na Península Ibérica e revela-se ainda mais severa. Neste cantinho da Europa, é realizada uma intensa perseguição a cristãos-novos, judeus e protestantes.

A Inquisição na Península Ibérica revela-se um instrumento colocado ao serviço do poder instituído, sendo uma força que avançava ferozmente contra qualquer tipo de ameaça a esse poder.

Embora D. Manuel I tivesse pedido a instalação da Inquisição em 1515, foi só com o rei D. João III que a Inquisição chegou ao nosso país. Esse momento aconteceu em 1536, após vários anos de negociações. A introdução da Inquisição foi então autorizada em Portugal, a qual ficou sob a alçada do rei, como aconteceu em Espanha.

Portanto, na época, a inquisição contava com a proteção do monarca, pois também servia os seus interesses. A inquisição portuguesa revelou-se um instrumento poderoso, pois não só permitia combater o desenvolvimento de outras religiões, como quem pudesse ferir o rei.

As pessoas que desrespeitassem as ideias da religião católica eram combatidas com violência. Quem ousasse manchar a imagem pura e intocável da Igreja e / ou do reino de Portugal era severamente punido.

O inquisidor-geral do Santo Ofício era nomeado pelo Papa sob proposta do rei. Por isso, frequentemente, pessoas da família real exerceram esse cargo. Posteriormente, o inquisidor-geral tinha o poder de nomear outros inquisidores.

No nosso país, havia tribunais em Lisboa, Coimbra e Évora. Em Lisboa, o paço dos Estaus foi sede da Inquisição local, sendo designada de “Casa de Despacho da Santa Inquisição”.

Coimbra também foi uma das sedes da Inquisição no nosso país. Aliás, o Tribunal da Inquisição de Coimbra foi tido como o mais cruel.

O Real Colégio das Artes foi criado por D. João III. Este espaço visou acolher pessoas que estudavam temas ligados às humanidades. Contudo, o colégio foi transformado numa casa de tortura. O refeitório foi convertido numa cela para acusados de cometer crimes pelo Tribunal da Inquisição de Coimbra.

O Pátio da Inquisição, situado perto da Rua da Sofia, revela parte da sua história no seu nome. Ironicamente, neste espaço que funcionou como um colégio que visou a difusão de ideias renascentistas e humanistas, serviu como sede de uma instituição repressiva cujo objetivo era julgar, reprimir e condenar esses ideais originais.

Ao longo de quase 300 anos, milhares de pessoas foram perseguidas pelas mãos do Santo Ofício e foram torturadas e mortas na fogueira. Por isso, a inquisição foi uma das instituições mais temidas em Portugal.

A Inquisição portuguesa perdeu a sua força durante a governação do Marquês de Pombal, mais precisamente no reinado de D. José. O Marquês de Pombal acabou com a distinção realizada entre cristãos-velhos e cristãos-novos.

Por essa altura, a inquisição foi transformada num tribunal ao serviço do estado e da coroa. O Marquês de Pombal equipara o Santo Ofício a qualquer outro tribunal régio, deixando de ter a importância que outrora apresentara. Este tribunal foi extinto em 1821.

A inquisição portuguesa durou 285 anos! Segundo dados atuais, 19.247 pessoas foram condenados em Portugal pela Inquisição, 1379 dessas pessoas foram queimadas. Além disso, largas centenas de condenados morreram na prisão, enquanto aguardavam pelo seu julgamento.

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE