Universidade

Pólos universitários em Coimbra estão segregados face à cidade

Notícias de Coimbra com Lusa | 1 ano atrás em 06-04-2023

Uma tese de doutoramento concluiu, através de uma análise à configuração da estrutura urbana de Coimbra, que os pólos universitários estão segregados face à cidade e não estão totalmente integrados no tecido urbano.

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A tese “Coimbra: Universidade e Cidade como manta de retalhos”, da autoria de Susana Faria, recorre a uma análise feita através da configuração espacial da estrutura urbana de Coimbra, que sustenta uma observação há muito feita pelos habitantes da cidade e da sua relação com a universidade.

“Há uma conclusão daquilo que já era uma ideia da universidade de costas voltadas para a cidade e vice-versa. Aqui, através de uma metodologia mais objetiva, confirma-se aquilo que era uma visão empírica”, disse à agência Lusa a autora do estudo.

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O estudo centra-se nos Pólos I, II e III da Universidade de Coimbra, criados e transformados em diferentes momentos da história da mais antiga instituição de ensino superior do país.

No caso do Pólo I, a transformação da sua relação com a cidade surge na sequência da demolição de muito do casario implantado na Alta de Coimbra, durante o Estado Novo, que avançou com a ideia de se criar uma cidade universitária, impondo uma planta organizada por grandes eixos e edifícios de “estilo monumental e racionalista”.

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“Antes, havia ali um maior convívio entre estudantes e população e havia serviços e comércio muito próximos da universidade”, notou Susana Faria, referindo que, após a intervenção do Estado Novo, promoveu-se uma separação entre cidade e universidade, criando uma zona quase monofuncional, que fica deserta após o fim das aulas.

Após o 25 de Abril, surge o desenvolvimento do Plano Geral da Universidade de Coimbra (UC) e os planos para os novos Pólos II e III (cujas construções foram concluídas no início do século XXI), já com o propósito de reverter os efeitos da monofuncionalidade que se observavam na Alta de Coimbra, estando prevista a intercalação de edifícios universitários com outro tipo de ocupações.

Apesar disso, outros tipos de edifícios acabaram por não surgir e o estudo concluiu que, apesar destes dois polos mais recentes estarem internamente integrados, apresentam um “desenvolvimento tendencialmente segregado em relação à cidade”.

Susana Faria utilizou uma metodologia que tem como base a teoria da lógica social do espaço, com um programa que analisa os atributos do espaço (integração, conectividade, sinergia e inteligibilidade) e da relação das ruas entre si, enquanto sistema (calculando também o número de mudanças de direção que são necessárias efetuar para se deslocar de um ponto para outro).

Na Alta, há várias ruas quebradas que obrigam a um maior número de mudanças de direção num hipotético percurso entre dois pontos, já os Pólos II e III, apesar de funcionarem como um sistema inteligível para quem está dentro, surgem segregados quando confrontados “com um sistema maior”.

“A forma como se ligam ao sistema é muito frágil e são poucos os pontos de ligação e, portanto, ficam segregadas da restante estrutura”, notou, realçando, porém, que o Pólo II tem um maior potencial de se tornar numa zona integrada da cidade.

Na tese, Susana Faria admitiu também que a topografia acidentada dos pólos analisados pode também contribuir como um fator para o desenvolvimento segregado dos espaços universitários em relação à cidade.

O estudo recorre também a um inquérito a 1.837 alunos da Universidade de Coimbra que concluiu que a maioria reside fora das áreas onde estuda, passando a maior parte do tempo disponível em casa.

Ou seja, após o horário escolar, a maioria dos alunos estão ausentes do espaço público dos pólos universitários, que acabam por ficar desertos.

“Eu acho que é possível diminuir esta separação, com planeamento. Esta ferramenta [a que recorreu] pode ser uma mais-valia, porque é preditiva. Se alterarmos a forma como se liga esta estrutura urbana podemos condicionar ou promover o crescimento e desenvolvimento integral da cidade”, vincou.

Segundo Susana Faria, a metodologia utilizada pode também ser usada para perceber “quais as áreas que precisam de mais transportes públicos” porque consegue identificar aquelas que estão mais segregadas.

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