Cerca de 40 polícias da região centro arrancaram esta tarde de autocarro rumo a Lisboa para participarem numa manifestação da PSP cheios de “desmotivação” e com reivindicações diversas, mas sobretudo melhores salários, disse o dirigente sindical, Rui Gaspar.
Durante a viagem de autocarro que agência Lusa acompanhou, enquanto viam o jogo do mundial de futebol Portugal-Gana nos telemóveis ou ouviam o relato, as conversas intercalavam entre a equipa do treinador Fernando Santos e os problemas que existem na polícia e que segundo estes polícias tardam em ser resolvidos.
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O vogal da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia e dirigente da zona Centro, Rui Gaspar, considerou que os salários têm de obrigatoriamente aumentar para atrair agentes para a PSP.
“No último curso dos 1020 candidatos só foram aprovados 643 e veremos se todos se apresentam. É necessário aumentar os vencimentos. Um polícia em início de carreira ganha cerca de 1030 euros limpos, incluindo o suplemento por turnos. Preocupa-me esta falta de candidatos”, apontou Rui Gaspar, que presta serviço em Leiria.
Rui Gaspar, quando iniciou a carreira, há 23 anos, ganhava dois salários mínimos. “Hoje, um polícia ganha quase tanto como o atual salário mínimo. Preocupa-me esta situação, porque temos cada vez menos pessoas na PSP. Se nada mudar arriscamo-nos a deixar de ter agentes”, alertou, ao recordar que os agentes que se aposentam não estão a ser substituídos.
Rui Gaspar acrescentou que quando um agente entra na profissão é colocado longe de casa, muitas vezes, em Lisboa, onde o “custo de vida é elevado”. E com o seu salário “tem de pagar alojamento, deslocação e alimentação”.
Esse é o caso de um jovem de 23 anos, o agente mais novo na comitiva que incluía elementos de Coimbra, Leiria, Marinha Grande, Caldas da Rainha e Nazaré. Entrou para a PSP há dois anos e meio e foi colocado em Lisboa.
O salário pouco ultrapassa os mil euros limpos e ainda tem de pagar alojamento, alimentação e as deslocações para visitar a família, a cerca de 130 quilómetros de Lisboa.
“Não estou arrependido, porque queria ser polícia, nem fui enganado, porque conhecia as condições, mas é preferível um jovem ter outro tipo de trabalho a ganhar o mesmo, com muito menos riscos e está em casa”, destacou durante a viagem para Lisboa, para se manifestar por “melhores remunerações e melhores condições de trabalho”.
Lembrando precisamente a responsabilidade e os riscos que a profissão de polícia exige, Rui Gaspar criticou o Governo “quando afirmou que está a dar o maior aumento que até hoje foi dado às polícias”.
“Esse aumento é igual a toda a função pública e está muito abaixo do nível da inflação. Temos perdido regalias nos últimos anos, como o sistema de saúde que era quase gratuito. Tudo é desmotivante e não atrai pessoas para a PSP”, reforçou.
Rui Gaspar reivindica ainda melhorias nas condições de trabalho, nomeadamente ao nível da frota automóvel e de intervenções nas esquadras. “O comando de Leiria e a esquadra de Pombal, por exemplo, precisam de obras urgentes”, disse.
A Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) realiza hoje à tarde uma manifestação em Lisboa contra o arrastar dos problemas que afetam a PSP e os polícias e contra a “falta de vontade política do Governo para os resolver”.
O Sindicato Independente dos Agentes de Polícia já anunciou que se vai juntar ao protesto, que vai decorrer entre o Largo de Camões e a Assembleia da República.
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