Com sentidos muito mais apurados do que os nossos, os cães conseguem detetar o que nós não vemos, ouvimos ou cheiramos — e talvez por isso tanta gente acredite que conseguem ver espíritos.
Desde a antiguidade que os cães são associados ao mundo espiritual. No México antigo, por exemplo, os astecas acreditavam que os cães guiavam as almas dos seus donos através do submundo. Séculos depois, continuam a multiplicar-se as histórias de pessoas que juram que os seus animais pressentem presenças invisíveis.
Mas será que há base científica para acreditar que os cães veem fantasmas? Marc Eaton, professor de sociologia no Ripon College, conta o caso de um homem que acreditava que o seu cão via o espírito do pai falecido — porque o animal ladrava insistentemente para as escadas, como se seguisse alguém invisível. Casos como este são comuns e alimentam a ideia de que os cães têm perceção extrassensorial (PES) — a capacidade de perceber algo além dos cinco sentidos. Alguns parapsicólogos, como Loyd Auerbach, acreditam que cães e gatos são “psíquicos” e podem captar fenómenos não físicos, como presenças espirituais, pode ler-se no ZAP.
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Contudo, a ciência continua cética. A maioria dos estudos não encontrou provas sólidas de que a PES exista — nem em humanos, nem em animais.
Auerbach e outros especialistas lembram que os cães ouvem e cheiram coisas que nós não conseguimos perceber. Um inseto dentro da parede, o som de uma torneira a pingar, ou um cheiro antigo impregnado num canto da casa — tudo isso pode desencadear comportamentos que nós interpretamos como “reação a fantasmas”.
O olfato canino é extraordinário: têm cerca de 220 milhões de recetores olfativos, contra os nossos 5 milhões. Conseguem detetar traços químicos minúsculos, como o odor de óleo de alho diluído a 0,00000005%, ou até identificar doenças como o cancro com enorme precisão. Também a audição é muito mais sensível — os cães ouvem frequências até 65 mil hertz, muito além do limite humano.
Esses “superpoderes sensoriais” explicam por que razão parecem reagir a algo invisível: não são fantasmas, são estímulos reais fora do nosso alcance.
“Como sou cético, não acredito no sobrenatural”, afirma Christopher French, psicólogo e autor do livro The Science of Weird Shit. “Os cães provavelmente estão apenas a responder a sons ou cheiros que nós não conseguimos detetar.”
A crença de que os cães sentem espíritos persiste porque é emocionalmente reconfortante. Como explica Eaton, muitas pessoas acreditam que animais e crianças pequenas têm um acesso mais puro ao “invisível”, enquanto os adultos foram socializados para duvidar.
A verdade é que os cães veem o mundo de forma completamente diferente da nossa: ouvem o silêncio, cheiram o invisível e percebem movimentos subtis que escapam aos nossos olhos.
Talvez não vejam fantasmas — mas sentem um mundo que nós simplesmente não conseguimos perceber.
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