Primeira Página

Pode ter sido descoberta a cura para a cegueira

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 5 minutos atrás em 09-12-2025

O corpo humano é extraordinário na arte de se reparar — cicatriza feridas, recupera ossos partidos e até regenera partes do fígado.

Mas, quando comparado ao reino animal, somos modestos aprendizes. Enquanto mamíferos, temos alguma capacidade de regeneração, mas nada que se compare a peixes, répteis e anfíbios capazes de recriar membros inteiros, tecido cerebral e até retinas completas.

PUBLICIDADE

publicidade

É precisamente neste ponto que a ciência tenta há décadas ultrapassar a limitação natural humana: regenerar células neuronais da retina para tratar doenças degenerativas que afetam mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. Agora, uma equipa da KAIST — Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia — deu um passo que pode mudar tudo.

PUBLICIDADE

Entre todas as espécies capazes de regenerar a retina, o peixe-zebra é o campeão absoluto. Quando a sua retina é danificada, ele reprograma as células gliais de Müller, que normalmente dão suporte aos neurónios, transformando-as em novas células neuronais funcionais. É como transformar um “técnico de manutenção” numa célula nervosa altamente especializada — e tudo isto de forma natural.

Mas há um obstáculo evolutivo gigante: humanos e peixes-zebra estão separados por 375 milhões de anos de evolução. Replicar esse processo num mamífero tem sido, até agora, uma barreira quase intransponível.

A equipa coreana descobriu algo crucial: após uma lesão, as células gliais de Müller dos ratos acumulam uma proteína chamada PROX1, cuja função é bloquear a criação de novos tipos de células da retina — exatamente o contrário do que acontece em espécies regenerativas.

Nos peixes-zebra, essa inibição simplesmente não acontece.

Os investigadores decidiram, então, tentar o impossível: desligar a PROX1 nos camundongos.

Ao bloquear a proteína, os investigadores conseguiram reativar o potencial regenerativo das células gliais de Müller. Em ratos com retinose pigmentar — uma doença na qual os fotorreceptores se deterioram — a retina começou a regenerar-se e a formar novos neurónios.

E o mais impressionante: os efeitos duraram seis meses, marcando a primeira regeneração neural de longo prazo numa retina de mamífero.

Para uma estrutura tão delicada e complexa como o olho, este feito abre portas enormes para futuras terapias.

O estudo, publicado na Nature Communications, junta-se a outros esforços internacionais para decifrar os mecanismos que impedem a regeneração da retina humana. Entre eles está a investigação sobre a via Hippo, identificada em 2019 como responsável por manter inativos os processos regenerativos.

Cada passo aproxima a ciência de algo que parecia inalcançável: reverter perdas de visão causadas por doenças degenerativas.

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE