Região

Pineal: Um reino “fantasma” após morte de criança em Oliveira do Hospital

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 6 meses atrás em 14-11-2023

O Reino do Pineal, em Seixo da Beira, no concelho de Oliveira do Hospital, terá começado com cerca de 100 membros, hoje pode constatar-se que não se ouve nada e não se vê ninguém. Por lá, apenas só restará o líder, a companheira e mais dois filhos.

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Quem vive pelas redondezas e conhece a comunidade que ali se instalou há cerca de três anos diz que, após as buscas policiais, só lá permanece “o chefe”, com a companheira e “os filhos, que já frequentam a escola. A morte do filho mais novo do casal esvaziou o local”, escreve o Público.

Recorde-se que as buscas aconteceram no início de agosto, depois de a existência do Reino do Pineal ter sido tornada pública pela revista Visão. Uma semana depois, a publicação noticiava a morte de Samsara, o filho do “líder” e da sua companheira, que nascera na comunidade, em 2021, aparentemente sem que a gravidez ou o parto tenham tido qualquer acompanhamento médico, e morrera de causas desconhecidas e sem nunca ter sido registado. “O seu corpo teria sido cremado e suspeitava-se que não teria tido também acompanhamento médico”, descreve.

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Com a morte da criança, as portas da comunidade abriram-se para a imprensa e para o mundo.  O “paraíso” começa a sofrer mudanças. Quem não acolhia as regras era, alegadamente, menosprezado. “Vários queixavam-se também de terem sido convencidos por Martin [líder] a doar milhares de euros à comunidade, depois do discurso insistente de que o sistema financeiro iria ruir e que só o investimento no Pineal faria sentido para o futuro. Alguns garantiam que saíram, porque começaram a acreditar que o grupo se estava a transformar num ‘culto’, numa ‘seita'”, diz o jornal.

A PJ entra no Reino do Pineal a 1 de agosto e pretendeu “o esclarecimento do circunstancialismo que determinou a morte de uma criança com cerca de um ano de idade, ocorrida em 2022, bem como fatualidade associada”. À Visão, a comunidade negou tudo classificando estas posições como “boatos sensacionalistas” e críticas “injustas e falsas”, feitas por pessoas com problemas e que não estavam disponíveis a trabalhar ou apoiar a comunidade como ela precisava.

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Após a incursão das autoridades, o Ministério Público anunciava que tinham sido “interrogados como arguidos dois suspeitos [Martin e a companheira]” e admitia que existiam no local “crianças em situação de potencial perigo”. 

Como muitos abandonaram o loca, no dia das buscas, já não havia quase ninguém na quinta. No entanto, ficaram para trás Martin Kenny com a companheira e os filhos, e uma outra mulher que também tivera uma bebé na propriedade, que será filha de Martin, e que ainda não registara a criança.

Aurora Rodrigues, familiar de Cátia Guerreiro, diz que os três estariam, na altura, no Algarve, onde a mulher teria ido a uma consulta com a sua dentista. “Por esta altura, a antiga procuradora, agora jubilada, há muito que convencera a mãe de Cátia, cada vez mais preocupada com a filha e a neta, que havia algo que poderia fazer para tentar proteger a criança”, informa o jornal.

A avó registara a menina com o nome Maria Madalena, e abriu um processo de promoção e proteção, mostrando-se disponível para acolher a criança, caso não fosse encontrada outra solução. “Não sabemos se alguma vez a Cátia foi notificada, porque todas as comunicações do tribunal vinham devolvidas”, conta.

 A Procuradoria-Geral da República limita-se a indicar que “o inquérito encontra-se em investigação e está sujeito a segredo de justiça”. A Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Oliveira do Hospital respondeu às perguntas enviadas pelo Público a informar que o caso está sob a alçada do Ministério Público e que “não se encontra pendente na CPCJ de Oliveira do Hospital nenhum processo de promoção e proteção relativo a criança relacionada com a comunidade denominada Reino do Pineal”, pode ler-se.

A 10 de Setembro, Martin lança uma mensagem contra desconhecidos que estarão, sistematicamente, a “derrubar o site” da comunidade. Garante que só estão “a ficar mais fortes” e que tem recebido mais pedidos de adesão ao Pineal. Mas avisa que, de momento, a comunidade não está a aceitar ninguém. “No final do processo veremos quem são os criminosos e os cumpridores da lei”, afirma.

Segundo o Público, “os dois filhos do líder da comunidade, que serão agora as únicas crianças do “reino”, estão, entretanto, a frequentar a escola, por ordem do tribunal. No restaurante onde a família ainda vai levantar encomendas, contam que os rapazes também se juntaram a uma equipa de futebol local, com que treinam. Parecem bem integrados”, diz a mulher.

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