A candidatura, pelo PS, da ex-ministra Ana Abrunhosa à Câmara Municipal de Coimbra está ‘presa por arames’; só o bom senso pode salvá-la para desespero dos arautos do quanto pior melhor.
A professora universitária, cujo percurso de candidata independente estava demasiadamente à mercê de Pedro Nuno Santos, denota dificuldade em lidar com um aparelho partidário ávido de ‘tachos’.
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Para perceberem o que se passa, os cidadãos minimamente familiarizados com estas questões têm de ter presente o seguinte: em geral, nos partidos não falta quem conviva com derrotas eleitorais desde que os seus apaniguados sejam eleitos vereadores. De que vale, pensam os sectários, fulano ou sicrano ascender à presidência de uma Câmara Municipal se se faz rodear de vereadores alheios às “boas graças” dos membros dos aparelhos partidários?
Neste contexto, a missão da professora universitária é espinhosa, requerendo dela bom senso e tacto político.
Se o líder concelhio do PS/Coimbra, Ricardo Lino, cujo currículo para este efeito deixa a desejar, se sente confortável, empurrado por indefectíveis apoiantes, a exigir o segundo lugar da respectiva lista para a CMC, resta a Ana Abrunhosa acatar a pretensão.
Mas o dirigente partidário não pode perder a sensatez e reclamar, de antemão, a vice-presidência da autarquia, pois cabe-lhe perceber que a ex-ministra da Coesão Territorial não pode abrir mão da prerrogativa de escolher quem a substitui em ausências e impedimentos.
Quer os “aparelhistas” do PS queiram, quer não, Ana Abrunhosa é uma mais-valia incontornável, seja em termos eleitorais, seja em termos de qualidade do desejável trabalho autárquico.
O advogado Paulo Valério acaba de escrever que “a decepção dos portugueses com o PS começa (…) nas dinâmicas locais, onde é mais indisfarçável uma lógica estritamente aparelhista, agravada (…) com reflexo directo na confiança dos eleitores”.
‘Cego’ por não se antever vereador da Cultura e, além disso, pressentir que o cargo poderá cair no regaço de Bruno Paixão, o ex-edil António Vilhena está deslumbrado com a hipótese – por ele encarada como certeza – de Ana Abrunhosa ser substituída à cabeça da lista do PS para a CMC.
Vilhena desabafa, nas redes sociais, como se a manutenção da candidatura da ex-governante representasse a falta de comparência do Partido Socialista no duelo eleitoral pela presidência da autarquia. Ana Abrunhosa, concluiu ele, “ficará como um balão que rebentou antes de subir ao céu”.
A tacanhez que, frequentemente, anda de braço dado com a avidez por lugares efémeros é causadora de danos irreparáveis. Eles não sabem, nem sonham, que a soberania reside no povo.
OPINIÃO | RUI AVELAR – JORNALISTA
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