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Pastora da Serra da Estrela espera que jogo solidário da seleção de futebol sub-21 alerte para consequências dos incêndios

Notícias de Coimbra | 2 anos atrás em 24-09-2022

O incêndio que devastou a Serra da Estrela tirou “quase tudo” à pastora e agricultora Liliana Correia, que espera que o jogo da seleção de futebol sub-21, a realizar hoje na Covilhã, sirva para “alertar para o problema”.

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Faltam as palavras a Liliana, de 34 anos, para explicar aos três filhos pequenos o negro que se perde de vista à volta da casa e da quinta, em Vila do Carvalho, concelho da Covilhã, onde deflagrou o incêndio que consumiu mais de 25% do Parque Natural da Serra da Estrela durante 12 dias, em agosto.

“Foi uma catástrofe. O que não ardeu, foi arrastado depois pela água”, conta Liliana Correia, que, com as enxurradas pós-incêndio, sofreu uma inundação em casa que a fez perder também eletrodomésticos, móveis e roupa, misturados com pedras, cinza, lama e outros detritos.

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As chamas já lhe tinham antes destruído as culturas, barracões, canos e depósitos de água para as cabras e ovelhas, que, desde 06 de agosto, não saem à rua, por não haver de que se alimentarem e porque as cinzas são tóxicas, além de quase todos os animais prenhes terem abortado.

Num primeiro momento, valeu-lhe a ajuda dos Guardiões da Serra da Estrela, associação de voluntários que vive de donativos, e tem entregado aos pastores feno, rações, água e ajudado a reparar tubagens, numa ajuda “de emergência”.

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“Têm sido uma segunda família para nós no pouco em que podem ajudar”, salientou, à agência Lusa, Liliana Correia, sobre a associação para a qual reverte na totalidade a receita do jogo de preparação de Portugal para o Campeonato da Europa de 2023, a disputar com um dos anfitriões da fase final, a Geórgia.

Os 1.100 bilhetes postos à venda ao público, a dois euros cada, esgotaram e é esperada hoje casa cheia no Estádio Santos Pinto, onde Liliana Correia não sabe se vai poder estar, por ainda se encontrar a debater com os problemas da inundação em casa.

Sara Boléo, da direção dos Guardiões, sublinhou já terem recebido anteriormente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) “15 toneladas de feno” e espera que o gesto simbólico de fazer o jogo na Covilhã sirva para que mais voluntários se juntem para ajudar a mitigar “a catástrofe”.

“A FPF, ao trazer o jogo para a Covilhã, sensibiliza para a divulgação do problema, valoriza o trabalho dos Guardiões e a urgência no apoio à continuidade do trabalho dos Guardiões”, acentuou a covilhanense Sara Boléo, segundo a qual se pode ajudar através de dinheiro, donativos em géneros ou com a força do próprio trabalho nas ações que estão no terreno.

Segundo Sara Boléo, as ajudas institucionais nem sempre chegam em tempo útil e, no que toca à alimentação dos animais, “se o ano já estava a ser difícil, devido à seca”, a ajuda aos pastores tornou-se fundamental.

“O que aconteceu foi avassalador e as enxurradas agravaram a catástrofe. Pastores que tinham perdido quase todo o seu pasto, ficaram agora com os lameiros que sobraram soterrados com terra e pedras”, descreveu a voluntária.

A prioridade, além de ajudar na alimentação para os animais, passa por trabalhar na contenção dos solos e proteção das linhas de água, para evitar mais aluimentos, proteger os solos da erosão e a qualidade da água.

O selecionador dos sub-21, Rui Jorge, manifestou-se sensibilizado pelo sofrimento da população e espera estarem de alguma forma a contribuir.

“Viemos à Covilhã não pelas melhores razões, mas com muito gosto, a tentar ter uma proximidade com uma zona que sofreu um flagelo. Estamos aqui a dar a nossa pontinha de ajuda, que sabemos que é muito pouca, comparado com o que é necessário”, frisou o treinador, na conferência de antevisão da partida.

Tiago Dantas, médio cedido pelo Benfica aos gregos do PAOK, apelou para que os adeptos se desloquem ao estádio, para ajudarem “as pessoas que passaram mal com os incêndios”.

O avançado Fábio Silva, emprestado pelos ingleses do Wolverhampton aos belgas do Anderlecht, enfatizou “o privilégio de poder ajudar as pessoas afetadas”.

“Para nós é importante o jogo reverter para uma causa solidária, porque a região passou por um momento difícil e faremos tudo para ganhar o jogo, darmos-lhe essa alegria”, vincou Fábio Silva.

Com a vida do avesso, não são os golos que vão dar alegria a Liliana Correia, a pensar nas muitas dificuldades no horizonte, mas enaltece o “gesto com significado” da FPF e espera que este não seja apenas um jogo de futebol, mas uma chamada de atenção para quem sofre as consequências da terra queimada.

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