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Papa Leão XIV contra “ateísmo prático” num tempo em que a fé é vista como “coisa absurda”

Imagem: Vatican News
O novo Papa, Leão XIV, assumiu hoje perante os cardeais eleitores o desafio de ser sucessor de São Pedro, em tempos de “ateísmo prático” de muitos crentes e não crentes e em que a fé é considerada “coisa absurda”.
“Ainda hoje não faltam contextos em que a fé cristã é considerada uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes; contextos em que em vez dela se preferem outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer”, afirmou o antigo cardeal Robert Prevost, que criticou a falta de prática religiosa, na sua primeira homilia como Papa.
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“Não faltam contextos nos quais Jesus, embora apreciado como homem, é simplesmente reduzido a uma espécie de líder carismático ou super-homem, e isto não apenas entre os não crentes, mas também entre muitos batizados, que acabam por viver, a este nível, num ateísmo prático”, disse.
Numa homilia na Capela Sistina dirigida aos cardeais eleitores e que teve mulheres a fazer as leituras, Leão XIV mostrou-se consciente da responsabilidade de liderar a Igreja Católica.
Antes de iniciar a homilia, Leão XIV falou em inglês, o seu idioma natal, que não utilizou na saudação da varanda da Basílica na quinta-feira à tarde, e dirigiu-se aos cardeais eleitores: “Eu posso confiar em todos para continuarmos todos como Igreja, como uma comunidade de amigos de Jesus” para continuar a evangelização.
“Deus, de modo particular, chamando-me através do vosso voto a suceder ao primeiro dos apóstolos, confia-me este tesouro para que, com a sua ajuda, eu seja seu fiel administrador” para que a Igreja “seja cada vez mais cidade colocada sobre o monte, arca de salvação que navega sobre as ondas da história, farol que ilumina as noites do mundo”, disse, já em italiano.
Num texto com várias referências ao Novo Testamento e com citações da constituição aprovada no Concílio Vaticano II, a “Gaudium et Spes”, sobre a Igreja no mundo contemporâneo, o novo Papa recorda as relações de Jesus com a atualidade de então, particularmente os poderosos.
A Bíblia “fala-nos de um mundo que considera Jesus uma pessoa totalmente desprovida de importância, quanto muito uma personagem curiosa, capaz de suscitar admiração com a sua maneira invulgar de falar e agir”, mas “quando a sua presença se tornar incómoda, devido aos pedidos de honestidade e às exigências morais que invoca, este ‘mundo’ não hesitará em rejeitá-lo e eliminá-lo”.
Mas, para as “pessoas comuns”, Jesus “não é um ‘charlatão’: é um homem justo, corajoso, que fala bem e que diz coisas certas, como outros grandes profetas da história” e “por isso, seguem-no, pelo menos enquanto podem fazê-lo sem demasiados riscos ou inconvenientes”, embora o abandonem na sua morte.
“Impressiona a atualidade destas duas atitudes”, porque “encarnam ideias que poderíamos facilmente reencontrar – talvez expressas com uma linguagem diferente, mas essencialmente idênticas – nos lábios de muitos homens e mulheres do nosso tempo”.
Hoje, a Igreja vive em “ambientes onde não é fácil testemunhar nem anunciar o Evangelho, e onde quem acredita se vê ridicularizado, contrastado, desprezado, ou, quando muito, suportado e digno de pena”, afirmou o novo Papa.
Contudo, para Leão XIV, “a falta de fé, muitas vezes, traz consigo dramas como a perda do sentido da vida, o esquecimento da misericórdia, a violação – sob as mais dramáticas formas – da dignidade da pessoa, a crise da família e tantas outras feridas das quais a nossa sociedade sofre”.
O cardeal Robert Francis Prevost, 69 anos, foi eleito na quinta-feira Papa, após dois dias de conclave, na Cidade do Vaticano, e assumiu o nome de Leão XIV.
Nascido em Chicago, Estados Unidos, o novo Papa tem ascendência espanhola e nacionalidade peruana, e pertence à Ordem de Santo Agostinho, tendo sido bispo de Chiclayo (Peru) e era o Prefeito do Dicastério dos Bispos.
Leão XIV sucede ao Papa Francisco, que morreu em 21 de abril, aos 88 anos.
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