Coimbra

 Pandemia “roubou” sustento a vendedores de farturas em feiras e romarias

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 17-05-2020

  Farturas polvilhadas de açúcar e canela, e pães com chouriço acabados de sair do forno geram habitualmente filas nas feiras e romarias portuguesas, muitas das quais não se realizarão este ano, deixando quem os vendia sem saber como sobreviver.

PUBLICIDADE

“Numa situação normal, por esta altura, teríamos praticamente tudo pronto para começarmos a trabalhar em Vila Real”, contou à agência Lusa Carlos Gonçalves, das Farturas de Lisboa – Brunato.

PUBLICIDADE

publicidade

Ao Santo António de Vila Real, seguir-se-iam as Gualterianas de Guimarães, a Feira de São Mateus de Viseu, a Feira dos Santos de Chaves e o São Martinho de Penafiel.

Mas, devido à pandemia de covid-19, este não está a ser um ano normal e, por isso, Carlos Gonçalves e a família estão parados.

PUBLICIDADE

“Há mais de 40 anos que vivemos disto, não temos outro meio de subsistência. Costumávamos sair a partir deste mês, até novembro”, contou.

Por esta altura, estariam a trabalhar “três ou quatro funcionários, mais a família”, e, para julho e agosto, a equipa teria de ser reforçada com “dez ou doze pessoas”.

Para já, Carlos Gonçalves não consegue fazer uma estimativa do prejuízo, sabendo apenas que é bastante grande, até porque o negócio está parado desde novembro de 2019, mas “mantêm-se as despesas dos seguros, da logística, dos camiões, das rulotes” e da vida familiar.

“Somos como a formiga, juntamos durante o verão para gastar no inverno. Mas o que ganhámos no verão praticamente já foi”, lamentou o empresário, que mantém ainda a esperança de conseguir fazer as festas de Chaves e de Penafiel, em outubro e novembro, para ver se consegue “amealhar um bocadinho para o próximo inverno”.

Também António Oliveira está preocupado com o negócio da família, cujo sustento provinha da venda das farturas nas Festas Gualterianas e na Feira de São Mateus.

Só na Feira de São Mateus, que dura cerca de cinco semanas, a família Oliveira costuma ter entre 40 a 50 funcionários a trabalhar.

“São funcionários temporários. Muitos deles já vinham trabalhar connosco há vários anos, quer em Guimarães, quer em Viseu”, contou António Oliveira à Lusa, acrescentando que eram sobretudo “estudantes universitários que aproveitavam para juntar um dinheirinho para o tempo de aulas”.

Também O Tomarense, conhecido pelos pães com chouriço em forno de lenha e pelo caldo verde, está há meio ano sem fazer negócios.

“Quem vive só das festas e romarias e investe as poupanças para ampliar e modernizar o negócio está a sofrer grandes consequências”, afirmou Manuela Santos.

Num ano normal, os seus pães com chouriço teriam começado a ser vendidos no final de abril, na Festa das Cruzes de Barcelos, e terminariam em outubro, na Feira de Santa Iria de Tomar.

Pelo meio, poderiam ser saboreados nas festas do Senhor de Matosinhos, no São João de Braga, nas Gualterianas e na Feira de São Mateus, num “ciclo de rendimentos” de cerca de seis meses que este ano não se vai cumprir.

“Felizmente, a minha empresa é sólida. Tenho todos os meus impostos em dia, terei o ativo suficiente para fazer liquidez aos malditos impostos que, independentemente de não estar a trabalhar, tenho que pagar, mas a nível pessoal as coisas têm de ser muito mais controladas”, admitiu.

Habitualmente, tinha onze pessoas a trabalhar consigo, mas hoje “estão todas no fundo de desemprego”.

Dos pontos de venda de Márcio Saraiva também costumam sair aromas que atraem miúdos e graúdos aos crepes, ‘waffles’, bolachas americanas e tripas de Aveiro.

O negócio começou na Feira de São Mateus, em Viseu, que é o grande evento que o consegue sustentar durante o ano, mas costuma também participar noutros, como feiras do queijo e festas da cidade, muitas das quais foram canceladas.

“Ainda não fiz contas, mas o prejuízo será muito grande”, frisou.

Outro produto muito apreciado é a ginjinha, que Eunice Batista vende, quer em grandes certames, como a Feira de Março de Aveiro e a Feira de São Mateus de Viseu, quer em pequenas festas de aldeia.

“Quando isto (a pandemia de covid-19) começou, ia arrancar a época forte”, disse Eunice Batista à Lusa.

Ainda que consiga ir realizando alguns eventos durante o inverno, o cancelamento da Feira de São Mateus é “o que mais transtorno causa, porque é uma feira muito intensa, muito boa”.

“A época de inverno é muito mais fraca. A partir de março/abril, até setembro, é que realizamos dinheiro para os meses em que não trabalhamos ou trabalhamos menos”, contou.

Com os lucros deste verão perdidos e poucas esperanças depositadas no que acontecerá a partir de outubro, estes empresários não conseguem vislumbrar o que o futuro lhes reserva.

“Nunca estive tão ansiosa que chegasse dezembro, para ver se 2021 nos traz mais tranquilidade, muita bonança e a vacina”, frisou Manuela Santos.

 

Related Images:

PUBLICIDADE

publicidade

PUBLICIDADE