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Padre de paróquias da Serra da Estrela temeu perda de centenas de vidas

Notícias de Coimbra | 6 anos atrás em 15-11-2017

O padre de paróquias nos concelhos de Seia e de Oliveira do Hospital  atingidas pelos incêndios de 15 e 16 de outubro chegou a temer “pela perda de centenas de vidas”.

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são gião

António Martins, de 37 anos, que no dia 15 de outubro tinha agendada a despedida das paróquias da zona da Serra da Estrela, porque foi transferido para a região da Guarda, lembra que naquela data testemunhou, em primeiro lugar, “a impotência absoluta”.

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“Recordar esse domingo, dia 15 de outubro e os dias seguintes, é de cortar o coração e abismar-nos na certeza absoluta da nossa pequenez. Recordo que nesse domingo consegui celebrar as duas primeiras eucaristias, mas já não me foi possível passar para o Sabugueiro [Seia] nem para celebrar, nem sequer para ajudar. O fogo ameaçava uma bomba de combustível e tive literalmente de fugir”, relata.

Acrescenta que, “a partir das 11:30, o incêndio que tinha começado de madrugada, no Sabugueiro, tomava proporções inimagináveis e inúmeras aldeias situadas nos lugares mais remotos ficaram totalmente isoladas e temi, durante a tarde e principalmente durante a noite, pela perda de centenas de vidas”.

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“Todas as minhas paróquias sofreram violentamente com este incêndio. Inúmeras anexas [aldeias], dispersas pela serra, ficaram dizimadas pelas chamas. E, ainda hoje, me custa imenso tentar entender que a prontidão de meios aéreos tenha de ser uma questão de calendário e não uma questão de condições climatéricas. Foi isso que durante esse dia 15 pensei”, refere o anterior pároco de Sandomil, São Gião, Sabugueiro, Santiago, Carragozela e Vila Cova.

António Martins lembra que “a especial situação geográfica da freguesia de São Gião e em particular do lugar de Parceiro” mantinham-lhe “o coração apertado” e um “sentimento de total impotência por nada poder fazer, por não haver comunicações telefónicas e todas as estradas, por segurança, terem sido fechadas”.

“A falta de comunicações, num primeiro momento, era o pior. O desespero de quem não podia, pelo menos, ser escutado. Ficou cada um no seu lugar a lutar no seu desespero, como que a lamber as feridas de derrota tão pesada”, disse.

Num segundo momento, o sacerdote sentiu “um desespero total”, pois as estradas cortadas impediram-no de ir ajudar os paroquianos e até a própria família, e, num terceiro momento teve, tal como os moradores, “uma derrota copiosa”.

“Aos poucos, iam chegando notícias. Fomos dando conta dos mortos, dos feridos, dos heróis anónimos e secretos”, descreve.

Naqueles dias viu “emigrantes generosos a emprestarem casas”, empresas a emprestarem geradores de energia “que lhes faziam falta para laborar” e “pessoas mais felizes por ter chegado um camião de ração e palha para os seus animais que sobreviveram ao fogo, do que com os produtos alimentares para a sua própria alimentação”.

O padre recorda ainda à Lusa que os momentos “especialmente dolorosos” foram os dos funerais: “Perdi três paroquianos. A dona Rosa, a dona Isilda e a dona Cristiana”.

Cristina, de 44 anos, deixou uma menina de 11, que sofreu queimaduras e se encontra “ainda em estado grave”, segundo o religioso.

Devido à tragédia, o sacerdote secou “muitas lágrimas” e conta que, “sentimentalão” como é, “muitas” verteu.

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