Ourivesaria “Marialva” encerra para dar lugar a um espaço de acolhimento ao Mikveh, Banhos de Purificação Judaicos.
Situada no número 19 da Rua Visconde da Luz, a Ourivesaria Marialva foi criada em 1944 pelo pai de Gualter Oliveira.
PUBLICIDADE
A loja nunca foi propriedade desta família, tendo estado desde então a pagar uma renda, primeiro aos anteriores proprietários e, desde 2021, ao município de Coimbra.
No início de 2025, a autarquia enviou uma carta ao responsável do estabelecimento a dar o prazo de 1 de junho para o encerramento do estabelecimento comercial “sem direito a indemnização”.
Em entrevista ao NDC, Gualter Oliveira lamentou tal decisão, já que o obrigou a ter de fazer liquidação total de todo o stoque da ourivesaria. Para além de perder grande parte do lucro dos produtos que lá vendia, vai perder “muito dinheiro” se tiver de mandar “derreter” o ouro e a prata que sobrar.
Ao longo deste processo, o proprietário recordou que o anterior presidente da câmara Manuel Machado ainda lhe chegou a perguntar, em duas ocasiões, qual o valor da indemnização que pretendia, mas pelo facto desta ser “uma sociedade por quotas não tive oportunidade de lhe responder logo”.
Com a entrada do novo presidente José Manuel Silva, “mudou tudo”. “O atual presidente nunca teve a coragem de vir cá”, frisou.
Veja a entrevista NDC com Gualter Oliveira
Em resposta ao NDC, o município de Coimbra refere que “foi feito um contacto presencial com o arrendatário da ourivesaria, convidando-o a apresentar uma proposta de indemnização que permitisse a desocupação voluntária do espaço”.
Nesse contacto, e de acordo com o município, “a reação inicial foi positiva, tendo o arrendatário manifestado disponibilidade para, juntamente com um familiar herdeiro do negócio, apresentar uma proposta à autarquia”.
Só que, no segundo contacto, “o arrendatário alegou que deveria ser o município a apresentar uma proposta de indemnização”. Desta forma, e de acordo com a legislação, a câmara “apenas poderia propor um valor máximo correspondente a 24 meses de renda (a 130,56 euros/mês), o que totalizaria cerca de 3.133,44 euros”.
“Perante esta limitação legal, foi novamente sugerido que os arrendatários apresentassem uma proposta fundamentada, que seria depois analisada pela autarquia” referem.
O município explicou ainda que, “apesar de diversas insistências, nunca foi apresentada qualquer proposta de indemnização por parte dos arrendatários” e que “dada a exiguidade do espaço disponível e a sua inadequação para receber visitantes e desenvolver um programa museológico condigno, foi então proposta e aprovada a denúncia do contrato de arrendamento”, o que aconteceu a 30 de novembro de 2023.
“Considerando que a última renovação teve início em 1 de junho de 2023, o contrato cessará os seus efeitos no dia 1 de junho de 2025, data em que o espaço deverá ser entregue livre e devoluto”, frisam, lembrando ainda que “durante o período de vigência da denúncia, ainda foi promovido um novo encontro entre o vice-presidente Francisco Veiga, a Chefe de Divisão de Museologia, Elisabete Carvalho, e o gerente da ourivesaria, com o intuito de retomar a possibilidade de um acordo indemnizatório para a libertação antecipada do espaço”.
“O valor proposto pelo arrendatário – cerca de 50.000 euros – revelou-se sem qualquer suporte legal, inviabilizando o acordo”, concluem.
Recorde-se que o Mikveh foi encontrado e identificado em novembro de 2013, numa cave de um edifício adquirido pela autarquia conimbricense em 2021. Trata-se de um complexo composto por antessala, sala de tanque e sala de mina, inserido numa gruta calcária.
O complexo, localizado na área da Judiaria Velha de Coimbra, foi alvo de trabalhos arqueológicos para diagnóstico do Mikveh.
Em março deste ano, o executivo aprovou o preço de 5 euros para o bilhete de visita a este espaço.
PUBLICIDADE