Opinião

Os omnipresentes

OPINIÃO | PEDRO SANTOS | 7 horas atrás em 07-06-2025

Nas festas, nas empresas, nas associações, nos restaurantes, subitamente no meio da rua… Creio que a única situação onde não me terei cruzado, recentemente, com os candidatos autárquicos foi em funerais. E mesmo assim, provavelmente só porque não fui a nenhum!

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O fenómeno, é evidente, não é novo: lembro-me de, ainda adolescente, reparar no político que, de um momento para o outro, começava a parecer aparentemente em qualquer viagem de autocarro que eu fizesse, o que permitia até a um relativamente distraído jovem concluir que estava a chegar a altura das eleições. Não é sequer um comportamento exclusivo de nenhuma corrente ideológica, embora se distinga um padrão que consiste em, quanto maior o partido, maior o número e a diversidade das aparições.

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Os otimistas dirão que daqui não vem mal nenhum ao mundo, que o povo é capaz de perceber estes truques baixos – truques mágicos, quase, assim ao jeito de «Não me vês em lado nenhum… Agora já me vês em todo o lado!» – mas eu tendo a achar que a democracia também começa a deteriorar-se por causa deles.

É que esta omnipresença tem muito de ilusão e pouco de substância. Surge não como sinal de compromisso, mas como manobra de última hora. Durante anos, nada. E depois, de repente, há quem pareça multiplicar-se por todas as coletividades do concelho. Para os cínicos, os sorrisos dos políticos são ensaiados, os cumprimentos uma obrigação e as promessas um pormenor a ser esquecido no futuro, mas mesmo que tenhamos a generosidade de considerar que existe sinceridade nas suas atitudes, é inescapável que quem aparece – ou aparece muito mais – só quando precisa não está a servir os outros, mas a si mesmo.

Talvez valesse a pena pensar na seguinte ideia disruptiva: qualquer candidato autárquico teria de usar, nos dois anos anteriores às eleições em que se apresenta, um daqueles coletes com sensores GPS e outras tecnologias de rastreamento que todos os futebolistas agora usam… E, no momento da entrega das listas, seria realizada uma grande cerimónia, com transmissão em direto pela Internet, onde esses dados seriam revelados!

Fora de fantasias, é importante perceber que é certo que a política precisa de contacto, mas não de figurantes que entram em cena apenas quando o guião assim o exige. Os eleitores merecem mais do que esta sucessão de aparições episódicas. Merecem ser tratados como cidadãos atentos e exigentes. E, acima de tudo, merecem respeito.

OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO

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