Desporto

Opinião: AAC/OAF – o passado – o presente – que futuro?

Notícias de Coimbra | 2 anos atrás em 14-04-2022

Quando falamos da Académica – equipa de futebol – fazemo-lo quase sempre no passado e com um sentimento de nostalgia. Lembramo-nos da paixão que nos despertou e da saudade que nos invade por não vermos as capas no ar e o sorriso de vitória nos nossos rostos. Vivemos desgostosos por um presente desastroso e por não se vislumbrar um futuro que augure algo de bom. 

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No acervo do nosso cérebro, estão instaladas ricas histórias: a do jogador que mandou a bola para fora por os jogadores do Sporting não conseguirem tocar na bola (que bailinho!); do Maló e das suas grandes defesas; do “mãozinhas”, outro grande guarda-redes; do golo do Costa de canto direto; e tantas outros que seria uma injustiça aqui colocar os nomes dos seus protagonistas. Que saudade!…

Nesse tempo, a Académica tinha uma identidade clara enquanto organização desportiva. Conseguia atrair jovens que procuravam valorizar-se através da Académica, conciliando a formação Académica e o génio/habilidade para jogar futebol.

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Ser da Académica correspondia a sucesso, em termos desportivos e do ponto de vista da afirmação das pessoas, na vida pública e profissionalmente.  

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A Académica, a Universidade de Coimbra e a cidade agradeciam. E não se deve esquecer o que era o propósito de então.

Mas os tempos são outros. Hoje, os jovens que querem jogar futebol já não procuram a sua valorização em paralelo com a via da formação académica, mas pretendem quase em exclusivo a sua afirmação profissional enquanto futebolistas, procurando otimizar a sua carreira.

E é em parte devido a este cenário que a Académica foi perdendo a sua identidade e o seu propósito – dar competências e formação aos jovens que jogavam à bola. 

Por outro lado, nos anos 60 e 70, a Académica era acompanhada para todo o lado pelos estudantes da Universidade de Coimbra, pois muitos deles não tinham condições financeiras para irem a casa durante os tempos livres do ano letivo, mas, de uma ou outra forma, os velhos doutores ajudavam estes jovens a se integrarem e a acompanhar a sua Académica. Até porque a ambos isso era algo que os apaixonava e que os unia – ter seguidores da Académica em qualquer ponto do país era algo normal. 

A Académica era aquela equipa simpática que todos gostavam e que todos diziam ser a sua segunda equipa. Mas, hoje, quem quer ser ou ter uma segunda equipa? 

No presente, quando ingressam na Universidade de Coimbra aos 17, 18 ou 19 anos, os jovens estudantes já têm o seu clube de coração (o seu clube de adoção) e, por outro lado, a ida a casa nos tempos livres é já regular e sistemática (as condições financeiras das famílias são globalmente melhores, há autoestradas e uma melhor rede de transportes públicos). Por conseguinte, é bastante mais fácil a deslocação a casa e/ou assistir aos jogos dos seus emblemas de eleição.

Neste cenário, qual é a identidade da Académica – Organismo Autónomo de futebol? Qual o seu propósito enquanto organização desportiva? Qual a sua visão e qual o seu plano estratégico? Qual é o seu plano de marketing e comunicação? Que sustentabilidade ao nível dos recursos humanos e financeiros?

Sem uma visão clara do que se quer não é possível valorizar a tão chamada “marca Académica” e, igualmente, não é possível ter uma identidade que a diferencie dos outros clubes. Tudo o que se possa dizer, criticar, opinar, não acrescenta nada. 

A construção da marca Académica é essencial não só para a sustentabilidade da Académica, como é a única forma de criar receitas adicionais, par além de criar uma relação afetiva com os atuais estudantes, com os adeptos em geral, patrocinadores, investidores, cidadãos de Coimbra e de outras geografias. 

A criação de um plano de estratégico de gestão desportiva e do plano de marketing e comunicação é essencial para recuperar a identidade da Académica, criando, por ventura um novo propósito, e isso só é possível com uma visão adaptada aos tempos de hoje.

Ajudar a retirar a Académica deste momento negro que se apoderou de uma das mais prestigiadas e exemplares organizações desportivas portuguesas, é um dever de todos os antigos e atuais estudantes da Universidade de Coimbra (UC), haja quem esteja disposto a colaborar naquilo que é um dos maiores símbolos da UC e da cidade de Coimbra. 

Viva a Académica!!!

Opinião | António Pereira

António Pereira, é um ex-atleta da secção de basquetebol da AAC, ex-treinador principal da equipa sénior da AAC (campeão nacional da 2ª divisão em basquetebol) e ex-atleta do Clube Académico de Coimbra (CAC), sendo bicampeão nacional júnior. 

É licenciado em Comunicação Organizacional com as especialidades de Comunicação de Marketing e Comunicação de Relações Públicas, Mestre em Marketing e Comunicação e escreve sobre Gestão do Desporto, Marketing e Comunicação do Desporto nos blogues https://apbasketball.blogspot.com/, https://ideiasparaobasquetebol.blogspot.com/ entre outros. 

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