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ONU quer negociar cessar-fogo na Ucrânia. Moscovo afasta derrube de regime

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 28-03-2022

Na véspera de nova ronda negocial russo-ucraniana, a ONU anunciou que vai entrar diretamente no jogo diplomático, procurando um “cessar-fogo humanitário”, e Moscovo assegurou que a invasão não procura derrubar o Governo de Kiev.

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A ONU vai procurar estabelecer um “cessar-fogo humanitário” entre a Rússia e a Ucrânia, anunciou o secretário-geral da organização, António Guterres, preparando-se para enviar a Kiev e a Moscovo o seu adjunto para Assuntos Humanitários.

Numa declaração à imprensa na sede da ONU, em Nova Iorque, Guterres anunciou que pediu “a Martin Griffiths que explorasse imediatamente com as partes envolvidas no conflito a possibilidade de acordos para um cessar-fogo humanitário na Ucrânia”.

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Por agora, o Governo turco espera que as conversações entre as delegações russa e ucraniana, agendadas para esta semana em Istambul, resultem num “cessar-fogo duradouro” que abra caminho para a paz, afirmou hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia.

Mevlut Çavusoglu confirmou desta forma, num comunicado publicado na rede social Twitter, a realização de um encontro presencial entre as delegações negociadoras da Rússia e da Ucrânia em território turco.

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Ao mesmo tempo, o secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, disse que a ofensiva militar russa na Ucrânia não tem como objetivo mudar o Governo de Kiev.

“A operação militar especial em curso foi apenas uma resposta aos passos criminosos de Kiev em direção a essas repúblicas (separatistas pró-Rússia de Donetsk e Luhansk), uma medida oportuna e preventiva”, disse Patrushev durante uma reunião com o seu colega argelino, Nureddin Makri.

Mas as negociações na Turquia vão decorrer sob um clima de suspeição acrescido, depois de o The Wall Street Journal ter noticiado que o oligarca russo Roman Abramovich, que está a tentar mediar conversações entre Moscovo e Kiev para pôr fim à guerra na Ucrânia, e dois negociadores ucranianos sofrerem sintomas que sugerem um possível “envenenamento”.

Após uma reunião na capital ucraniana em março, o bilionário proprietário do clube de futebol inglês Chelsea e pelo menos dois membros seniores da equipa de negociadores ucranianos “desenvolveram sintomas” suspeitos, escreveu o jornal norte-americano, citando fontes próximas.

Entretanto, o chefe da diplomacia russa repetiu hoje que um encontro entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, só deverá ter lugar depois de aceites as exigências de Moscovo, considerando que fazê-lo agora seria “contraproducente”.

Vladimir Putin “disse que nunca recusaria um encontro com o Presidente Zelensky, mas esta reunião deve estar bem preparada (…). O conflito na Ucrânia agravou-se ao longo de todos estes anos, acumularam-se muitos problemas”, afirmou Serguei Lavrov.

A presidência russa também considerou “alarmantes” as palavras do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que afirmou no sábado que o seu homólogo russo, Vladimir Putin, não pode continuar no poder.

“Esta declaração é, naturalmente, alarmante”, disse o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, quando questionado por jornalistas se Moscovo considerava as palavras de Biden uma tentativa de interferir nos assuntos da Rússia.

As declarações de Joe Biden foram feitas no sábado, em Varsóvia, onde fez um discurso no castelo real de Varsóvia, num tom particularmente duro dirigido ao Presidente russo.

“Por amor de Deus, esse homem não pode permanecer no poder”, afirmou, sublinhando que não é o povo russo quem considera como inimigo.

No terreno de combates, o Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia avançou que cerca de 17.000 soldados russos foram mortos ou ficaram feridos desde o início da ofensiva militar russa, sem clarificar o número total de óbitos.

Entre 24 de fevereiro e 28 de março, as tropas russas perderam 586 tanques, 1.694 veículos blindados de combate, 302 sistemas de artilharia, 95 sistemas de foguetes de lançamento múltiplo (MLRS) e 54 sistemas de defesa aérea, segundo a mesma nota informativa publicada pelas autoridades militares ucranianas na rede social Facebook e citada pela agência de notícias da Ucrânia Ukrinform.

Ainda assim, as tropas russas estão a consolidar a sua posição no sul e no leste da Ucrânia e o autarca de Mariupol disse que cerca de 160 mil pessoas permanecem naquela cidade sitiada pelos russos, com Kiev a alertar que uma “catástrofe humanitária” ocorrerá caso não existam mais retiradas de civis.

Segundo a emissora pública ucraniana Suspilne, Vadim Boychenko disse que as forças russas estão a impedir a retirada de civis de Mariupol e a fazer regressar à cidade muitas pessoas que tentam escapar.

Por outro lado, Kiev anunciou que nenhum corredor humanitário para retirada de civis será usado hoje para evitar “eventuais provocações” russas, antes de uma nova sessão de negociações presencial entre as delegações russa e ucraniana.

“Os nossos serviços de informações avisaram sobre possíveis provocações nas rotas dos corredores humanitários, portanto, por razões de segurança para os civis, nenhum corredor humanitário estará aberto hoje”, escreveu a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, numa mensagem divulgada no Telegram.

Para aumentar a ajuda humanitária, o Conselho da União Europeia (UE) e a Comissão Europeia adotaram hoje um plano de 10 pontos para acolher “nas melhores condições” pessoas que fogem da guerra na Ucrânia, quando 10% da população ucraniana já está na Europa.

Numa declaração conjunta aprovada no Conselho de Justiça e Assuntos Internos, os ministros e a Comissão sublinham “a sua unidade e plena solidariedade com a Ucrânia, a sua vontade de proteger as pessoas que fogem à guerra e a solidariedade entre todos os Estados-membros a este respeito”.

A invasão russa – justificada por Putin com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

A guerra na Ucrânia, que entrou hoje no 33.º dia, causou um número ainda por determinar de mortos civis e militares e, embora admitindo que “os números reais são consideravelmente mais elevados”, a organização confirmou hoje pelo menos 1.151 mortos, incluindo 103 crianças, e 1.824 feridos entre a população civil.

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