Durante anos, o açúcar foi apontado como um dos grandes vilões da alimentação moderna. No entanto, um novo e abrangente estudo internacional veio lançar uma nova luz sobre esta narrativa: afinal, não é tanto o açúcar em si o problema, mas sim como ele é consumido.
A investigação, liderada por cientistas da Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, em colaboração com equipas de várias instituições alemãs, analisou dados de mais de 800 mil pessoas em diversos continentes. O que descobriram poderá mudar a forma como encaramos o consumo de açúcar: açúcares líquidos, como os presentes em refrigerantes e sumos de fruta, estão fortemente associados a um risco mais elevado de desenvolver diabetes tipo 2. Já o açúcar consumido em alimentos sólidos parece não representar o mesmo perigo — e poderá até ter um efeito neutro ou ligeiramente protetor.
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Publicado na revista Advances in Nutrition, o estudo cruzou dados de 29 grandes estudos de coorte com uma meta-análise inovadora, permitindo observar o risco em função da quantidade de açúcar ingerida. As conclusões foram claras: cada refrigerante adicional por dia (355 ml) aumentava o risco de diabetes tipo 2 em 25%. Mesmo os sumos de fruta naturais não escapam: uma porção de 225 ml estava associada a um aumento de risco de 5%.
Estes resultados mantiveram-se mesmo após serem considerados outros fatores de risco como índice de massa corporal, consumo calórico total, tabagismo ou níveis de atividade física. Isto reforça a ideia de que o impacto do açúcar líquido no organismo tem um efeito específico e direto, não sendo apenas um reflexo de maus hábitos alimentares.
Um dos aspetos mais surpreendentes do estudo é a distinção entre os diferentes tipos de consumo de açúcar. O açúcar presente em alimentos sólidos, incluindo o comum açúcar de mesa, não mostrou a mesma ligação com o aumento do risco de diabetes tipo 2. Na verdade, em algumas análises, foi observada até uma ligeira redução no risco, embora esta conclusão exija mais investigação.
Karen Della Corte, investigadora principal e professora de ciência nutricional na BYU, sublinha: “Este é o primeiro estudo a demonstrar claramente uma relação dose-resposta entre as diferentes fontes de açúcar e o risco de diabetes. Beber açúcar é significativamente mais prejudicial do que comê-lo”.
Para quem procura fazer escolhas alimentares mais conscientes, este estudo traz um alerta importante: moderar (ou evitar) o consumo de bebidas açucaradas pode ser uma das decisões mais eficazes para proteger a saúde metabólica. E isto aplica-se tanto aos refrigerantes como aos sumos aparentemente “inocentes”.
Optar por água, chá sem açúcar ou bebidas com adoçantes naturais pode ser uma forma simples de reduzir o risco. Além disso, continuar a privilegiar alimentos integrais, frutas inteiras (em vez de sumos), e uma dieta equilibrada é fundamental para manter o bem-estar a longo prazo.
A ciência continua a evoluir, mas este estudo deixa uma mensagem clara: o açúcar não é todo igual — e a forma como o consumimos faz toda a diferença.
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