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O segredo por trás de quem nunca esquece um rosto

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 15 minutos atrás em 17-11-2025

Imagem: depositphotos.com

Algumas pessoas nunca esquecem um rosto. Mas como conseguem isso? Um novo estudo de investigadores australianos revela que aqueles com capacidade excecional de reconhecimento facial parecem “mais inteligentes, não mais esforçados”. Ou seja, concentram-se naturalmente nas características faciais mais marcantes de cada pessoa.

Mas será esta uma boa notícia para quem, como a maioria de nós, tropeça em gafes ao esquecer nomes ou rostos? Infelizmente, não.

“Esta habilidade não se aprende como um truque”, explica James Dunn, psicólogo da Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW) em Sydney e autor principal do estudo. “Trata-se de uma forma automática e dinâmica de perceber o que torna cada rosto único.”

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Para compreender como estes “super-reconhecedores” enxergam os rostos, Dunn e a sua equipa utilizaram tecnologia de rastreamento ocular para mapear a forma como pessoas analisavam rostos desconhecidos. O estudo envolveu 37 indivíduos com capacidade de reconhecimento facial excecional e 68 com habilidades comuns, observando onde e durante quanto tempo olhavam para imagens de rostos num ecrã.

Os dados recolhidos foram depois inseridos em algoritmos de aprendizagem automática, conhecidos como redes neurais profundas, treinados para decidir se dois rostos pertenciam à mesma pessoa.

“A IA tornou-se muito eficiente no reconhecimento facial”, afirma Dunn. “O nosso objetivo era usar isso para perceber quais padrões oculares humanos são mais informativos.”

Os resultados mostraram que, com base nos dados de rastreamento ocular de super-reconhecedores, os algoritmos conseguiram identificar rostos com maior precisão do que quando analisavam dados de pessoas com capacidades normais.

Segundo os investigadores, estas descobertas sugerem que as diferenças individuais na capacidade de reconhecer rostos podem ter origem nos estágios iniciais do processamento visual, ao nível da codificação retiniana.

Estudos anteriores da mesma equipa indicavam que os super-reconhecedores dividem um rosto novo em várias partes, processando-as antes como um “quebra-cabeças” antes de formar a imagem completa. Esta abordagem contraria a ideia de que memorizar rostos passa apenas por olhar para o centro do rosto e vê-lo como um todo.

“É como uma caricatura: ao exagerar características distintivas de um rosto, torna-se mais fácil de reconhecer”, explica Dunn. “As pessoas com capacidade excecional parecem fazer isto de forma visual, focando-se nas características mais reveladoras de cada rosto.”

Embora estas descobertas possam ajudar a melhorar sistemas de reconhecimento facial, os investigadores sublinham que, por enquanto, os humanos continuam a levar vantagem sobre a IA em contextos sociais, pois utilizamos pistas adicionais para identificar pessoas.

No entanto, esta habilidade tem uma forte base genética e desempenha um papel importante no comportamento social dos primatas, sugerindo que as raízes biológicas do reconhecimento facial podem não ser exclusivamente humanas.

O estudo foi publicado nos Anais da Sociedade Real B: Ciências Biológicas.

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