O elevador da Glória, uma das principais atrações turísticas no centro da cidade de Lisboa, descarrilou na quarta-feira, no pior acidente dos seus quase 140 anos, provocando 16 mortes e mais de 20 feridos.
No acidente, que está a ser investigado por várias entidades, morreram e ficaram feridas pessoas de várias de nacionalidades e o Governo decretou um dia de luto nacional, que foi cumprido na quinta-feira. A Câmara de Lisboa decretou três dias de luto municipal, entre quinta-feira e sábado.
Principais pontos sobre o acidente com o elevador da Glória:
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+++ Quando ocorreu o acidente +++
O elevador da Glória, composto por duas cabines elétricas motorizadas e sincronizadas por cabo, descarrilou cerca das 18:00 de quarta-feira e, cerca de cinco minutos depois, estavam no local o Regimento Sapadores Bombeiros e o INEM, que iniciaram de imediato as operações de salvamento e desencarceramento das vítimas.
Nas operações de socorro estiveram 60 elementos do Regimento Sapadores Bombeiros, apoiados por 15 viaturas, e foram envolvidas nas operações de salvamento 19 ambulâncias, entre as do INEM, as dos corpos de bombeiros voluntários da cidade de Lisboa, bem como da Pontinha, de Algés e de Carnaxide.
As operações foram apoiadas por elementos da Polícia Municipal, da Polícia de Segurança Pública e do Serviço Municipal de Proteção civil de Lisboa.
Foi instalado nas imediações do local um centro de apoio psicológico coordenado pelo INEM, onde também integraram profissionais de outras entidades, para receber e prestar informações e o devido apoio psicológico aos familiares e amigos das vítimas, que se dirigiram ao local da ocorrência.
+++ 16 mortos e 22 feridos +++
O acidente provocou 16 mortos – cinco portugueses, dois sul-coreanos, um suíço, três britânicos, dois canadianos, um ucraniano, um norte-americano e um francês -, que foram identificados pela Polícia Judiciária e pelo Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses.
Segundo as autoridades, registaram-se ainda 22 feridos, que seguiram para vários hospitais da região de Lisboa.
Nove feridos estão ainda internados nos hospitais de São José, Santa Maria e São Francisco Xavier, seis dos quais em unidades de cuidados intensivos. As pessoas que sofreram ferimentos ligeiros já tiveram alta hospitalar.
+++ Celeridade no apuramento das causas +++
Na quinta-feira, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou esperar que o apuramento das causas do acidente com o elevador da Glória aconteça “o mais rápido possível”, nos planos jurídico e técnico.
Na mesma linha, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, prometeu celeridade nas averiguações que estão a decorrer, salientando que se tratou de uma das “maiores tragédias humanas da nossa história recente”.
Já o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, pediu à empresa municipal Carris para que fosse realizada uma investigação externa independente, além do inquérito interno, realçando que a “cidade precisa de respostas” sobre as causas do descarrilamento.
+++ Consultores externos na investigação da Carris +++
Na sequência do pedido feito por Carlos Moedas, o presidente da Carris, Pedro de Brito Bogas, adiantou que o inquérito interno vai contar com a colaboração de consultores externos, assegurando ainda que a empresa está a prestar toda a colaboração às entidades que estão a investigar o acidente.
O responsável da empresa afirmou também que a manutenção do elevador, a cargo de uma empresa por `outsourcing´, foi cumprida escrupulosamente e garantiu que a Carris mais do que duplicou o investimento em nessa área entre 2015 e 2025.
+++ Críticas sindicais à externalização da manutenção +++
A Federação dos Sindicatos dos Transportes e Telecomunicações – Fectrans defendeu um rigoroso inquérito sobre descarrilamento, para verificar as suas causas imediatas, mas também para analisar os efeitos da externalização do serviço de manutenção.
O dirigente sindical Manuel Leal afirmou que os trabalhadores da Carris apresentaram “queixas sucessivas” quanto à necessidade de a manutenção dos elevadores voltar a ser assegurada por trabalhadores da própria empresa.
Também a Comissão Coordenadora das Comissões de Trabalhadores da Região de Lisboa (CIL) criticou o ‘outsourcing’ dos serviços de manutenção da Carris, alegando que devem ser executados por trabalhadores da empresa “e não por ‘outsourcing’, que só visa o lucro”.
+++ Candidatos querem esclarecimentos de Moedas +++
A pouco mais de um mês das eleições autárquicas, a cabeça de lista da coligação PS/Livre/BE/PAN à Câmara de Lisboa, a socialista Alexandra Leitão, afirmou na quinta-feira que o momento era de “solidariedade e união”, mas salientou que, nos próximos dias, serão necessários esclarecimentos de Carlos Moedas.
Já hoje, o deputado municipal do Chega e candidato à Câmara de Lisboa, Bruno Mascarenhas, anunciou a apresentação de uma moção de censura ao executivo da autarquia, exigindo responsabilidades pelo acidente com o elevador da Glória.
+++ Carris na tutela da autarquia desde 2017 +++
Em 2017, a Carris, que se dedica ao transporte público urbano de superfície de passageiros, passou a ser gerida pela Câmara Municipal de Lisboa e, segundo dados da empresa, possuía cerca de 2.500 colaboradores, gerindo uma frota de 773 autocarros, 64 elétricos, três ascensores e um elevador.
Em 2024, a Carris transportou 134 milhões de passageiros e, no que se refere aos elétricos, ascensores e elevador, registou um crescimento na procura, que correspondeu a mais 7% dos passageiros.
Nesse ano, as receitas tarifárias cresceram 2,8% face ao ano homólogo, atingindo cerca 122 milhões de euros.
+++ Manutenção assegurada por ajuste direto +++
A Carris foi obrigada recentemente a fazer um ajuste direto com a empresa que atualmente assegura a manutenção dos elevadores e ascensores de Lisboa por cinco meses, depois de o contrato público para esse efeito ter terminado no final de agosto.
Um novo concurso público será lançado ainda este mês.
Os serviços de manutenção têm sido feitos pela empresa MNTC/Main desde 2019 e a externacionalização desta área para os elevadores e ascensores está em vigor desde 2007.
O presidente da Carris afirmou que a última manutenção geral do elevador da Glória foi feita em 2022 e que deve ser realizada de novo no prazo de quatro anos (até 2026). O plano de segurança em vigor prevê também manutenção semanal e mensal e inspeções diárias, das quais a última foi feita na quarta-feira, dia do acidente.
+++ Elevadores suspensos de imediato +++
No dia do acidente, o presidente da Câmara de Lisboa mandou suspender de imediato as operações dos ascensores da Bica e do Lavra e do Funicular da Graça para os equipamentos serem inspecionados.
Todos criados pelo engenheiro Raoul Mesnier de Ponsar, os elevadores do Lavra, da Glória e da Bica também são geridos pela Carris, tal como o Funicular da Graça.
O elevador da Glória liga os Restauradores ao Jardim de São Pedro de Alcântara, no Bairro Alto, num percurso de cerca de 265 metros e é muito procurado por turistas.
Em 19 de fevereiro de 2002, os ascensores do Lavra, Glória e Bica e o Elevador de Santa Justa foram classificados como Monumentos Nacionais.
Ponto turístico de referência da cidade de Lisboa, o elevador da Glória foi também o nome escolhido pela banda de rock portuguesa Rádio Macau para o seu álbum lançado em 1984.
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