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O que se sabe sobre as armas nucleares táticas que a Rússia quer colocar na Bielorrússia?

Notícias de Coimbra com Lusa | 1 ano atrás em 27-03-2023

O Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou no sábado que vai colocar armas nucleares táticas na Bielorrússia, em resposta ao anúncio da entrega de munições com urânio empobrecido ao Exército ucraniano pelo Reino Unido.

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Na segunda-feira passada, o Ministério da Defesa britânico confirmou que iria fornecer à Ucrânia munições perfurantes contendo urânio empobrecido. No dia seguinte, Putin alertou que Moscovo “responderia da mesma forma” ao Ocidente, afirmando que o Ocidente estava a começar a “usar armas com ‘componentes nucleares'”, o que Washington negou.

No sábado, Putin anunciou que a Rússia iria colocar armas nucleares táticas no território da Bielorrússia, país aliado e que tem servido de porta de entrada para a invasão russa na Ucrânia.

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Vários países ocidentais já alertaram para os riscos desta escalada.

 

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 O que são armas nucleares táticas? 

As armas nucleares táticas têm uso militar real contra uma força hostil, e a definição académica mais difundida é que são bombas de 01 a 50 quilotoneladas montadas em projéteis com alcance de até 500 quilómetros.

Para se ter uma ideia da sua magnitude, a bomba lançada pelos Estados Unidos sobre Hiroshima em 1945 tinha 15 quilotoneladas e foi lançada de um bombardeiro.

As armas nucleares táticas, no entanto, podem ser lançadas, no caso da Rússia, a partir de navios, aviões e até mesmo por forças terrestres.

Este armamento é muito mais destrutivo que uma ogiva convencional, embora tenham a mesma energia explosiva, e causa contaminação por radiação que afeta o ar, o solo, a água e a cadeia alimentar.

Esses tipos de armas nucleares táticas não foram incluídas em nenhum acordo de controlo de armas nucleares e as armas nucleares de médio alcance estavam apenas no tratado de Forças Nucleares de Médio Alcance, em vigor de 1987 a 2018.

 

Qual é a capacidade de dissuasão deste tipo de armamento? 

As armas nucleares estratégicas, usadas como forma de dissuasão através da ameaça de destruição mutuamente assegurada, dominaram o período da Guerra Fria. Os Estados Unidos e a Rússia reduziram o seu arsenal destas armas de 19.000 e 35.000, respetivamente para 3.700 e 4.480 até janeiro de 2022.

“Ataques nucleares em larga escala são considerados impraticáveis. As armas nucleares estratégicas estão a perder o seu valor dissuasivo numa guerra entre potências nucleares. As armas nucleares táticas são mais prováveis de serem usadas, em teoria, como forma de dissuasão de um país”, disse à agência Europa Press a professora de Relações Internacionais Nina Srinivasan Rathbun, da University of Southern California, nos Estados Unidos.

Apesar do seu maior poder, a utilidade militar das armas nucleares táticas é questionável, pois as bombas com explosivos convencionais estão a tornar-se mais poderosas, a ponto de os Estados Unidos reduzirem o seu número. A maior parte do seu arsenal de 150 bombas nucleares B61 está na Europa.

A França e o Reino Unido eliminaram completamente os seus arsenais táticos, embora Paquistão, China, Índia, Coreia do Norte e Israel os mantenham.

 

 Qual a utilidade militar das armas nucleares táticas? 

Estudos militares dos Estados Unidos concluíram que uma bomba nuclear tática de um quiloton precisaria ser detonada a 90 metros de um tanque de batalha para causar danos sérios. Estudos sobre o seu uso num conflito nuclear entre a Índia e o Paquistão sugerem que uma bomba nuclear tática paquistanesa de 05 quilotoneladas usada contra um regimento de tanques de batalha indianos poderia destruir cerca de 13 tanques.

A Rússia, por sua vez, possui cerca de 2.000 bombas nucleares táticas que desempenham um papel muito importante na sua estratégia nuclear, principalmente pela sua menor capacidade e pelos avanços tecnológicos em armas convencionais.

Este armamento é principalmente preparado para uso em mísseis ar-superfície, mísseis balísticos de curto alcance, bombas de gravidade e cargas de profundidade transportadas por bombardeiros táticos de médio alcance ou por torpedos anti-navio ou anti-submarino.

Nos últimos anos, a Rússia desenvolveu mísseis convencionais e nucleares de uso duplo, o que causou certa preocupação em Washington, já que não se sabe até o último momento que tipo de ogiva explosiva transporta.

Em particular, foi ampliada a fabricação dos mísseis Iskander-M, que já foram utilizados para atacar alvos específicos na Ucrânia, sempre com explosivos não nucleares.

No entanto, o uso de armas nucleares russas na Ucrânia não parece muito lógico para a especialista.

“Acho que não atingiria nenhum objetivo militar. Iria contaminar o território que a Rússia considera parte do seu império histórico e provavelmente afetaria a própria Rússia. Aumentaria as chances de uma intervenção direta da NATO e destruiria a imagem da Rússia no mundo”, afirmou Nina Srinivasan Rathbun.

Por esse motivo, comparou a sua implantação na Bielorrússia com o efeito da bomba Tsar, o maior explosivo nuclear já detonado, desenvolvido pela União Soviética e detonada no Mar de Barents em 1961.

Tinha mais de 50 megatoneladas de potência e o seu tamanho tornava-a pouco útil num conflito, mas cumpria sua função ao nível da propaganda.

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