Coimbra

O Jovem que fugiu da riqueza e encontrou Deus em Coimbra: A verdadeira história de Santo António

Notícias de Coimbra | 24 horas atrás em 12-06-2025

Santo António, nascido em Lisboa em 1195 com o nome de Fernando de Bulhões, passou uma fase determinante da sua vida em Coimbra.

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Primogénito de uma família nobre, poderosa e rica. Os seus parentes o destinaram para os estudos. Queriam fazer dele um magistrado ou um bispo. Mas o pequeno, que na pia baptismal recebeu o nome de Fernando, começou logo a desiludir as suas esperanças ambiciosas. Amava intensamente a oração.

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Uma pitoresca lenda conta que um dia, na catedral de Lisboa, enquanto orava, escorraçou o demónio traçando um sinal da cruz sobre uma pedra, lê-se no site Santo Antonio Olivais.

Fernando cresceu, tornou-se um belo rapaz; cresceram também as ansiedades dos familiares, diante de uma adolescência, que não partilha dos seus projetos de carreira mundana. Chegado aos 15 anos, depois de ter rezado e refletido, deixa o seu rico palácio, deixa os seus familiares e enclausura-se no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. Parentes e amigos procuram a cada instante distraí-lo e tentá-lo.

Perturbam-lhe a vida espiritual e roubam-lhe o tempo de estudo. É necessário um corte radical! De acordo com os seus superiores, o jovem Fernando abandona a sua bela cidade e vai para Coimbra, naquele tempo capital do reino de Portugal, para o mosteiro dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, que aí havia. Aqui vive em paz e aproveita para intensificar os seus estudos de teologia, até ao dia em que, com 25 anos, é ordenado sacerdote.

Em fevereiro de 1220, espalhou-se em Coimbra a notícia de que tinham sido mortos, em Marrocos, mártires pela fé, cinco missionários franciscanos. As suas relíquias foram piedosamente recolhidas pelos cristãos e transportadas pelo irmão do rei de Portugal para a Igreja de Santa Cruz, em Coimbra, anexa ao mosteiro onde se encontrava Fernando.

Também ele venerou os novos mártires, reevocando o seu encontro com eles, acontecido poucos meses antes. Vinham das terras longínquas da Úmbria; vinham em pobreza e extenuados pelas privações da longa viagem. Todavia cativaram-no pela sua simplicidade, gentileza e ardente fé. Este encontro leva-o a reavaliar a mediocridade da sua vida, perante a rotina e o comodismo da vida no mosteiro. Ansiava a uma vida nova, onde a fé não fosse uma mera rotina, mas uma plenitude de espírito, um dom arriscado e fecundo.

Um dia, os Franciscanos, que viviam no ermitério de Santo Antão dos Olivais, próximo da cidade, bateram à porta para pedir esmola. Fernando aproveitou para revelar a sua decisão. Deixaria os Cónegos Regrantes para se unir ao seu movimento e logo partir como missionário para Marrocos, onde esperava também derramar o seu sangue por Cristo. Obteve com dificuldade as necessárias autorizações, vestiu o hábito franciscano e deixou para sempre o Mosteiro de Santa Cruz. Para cortar todas as pontes com o passado, mudou o seu nome: em vez de Fernando o seu nome seria António. Depois de um breve tirocínio embarcou para África.

A missão em Marrocos transformou-se numa grande desilusão. Depois do desembarque, António foi atingido por uma grave doença. Em vez de estar nas praças a pregar Cristo, teve que ficar na cama, atingido pela febre malária. É o falhanço do seu generoso sonho de apostolado e martírio. Só lhe resta uma escolha, o caminho do verdadeiro crente: render-se à vontade de Deus. A um carácter ardente como o de António, o grande ato de fé deve ter-lhe custado muito!

Mais tarde, na meditação e na oração, o Espírito ter-lhe-á feito entender que em África tinha mesmo sofrido o martírio, não pela mão dos sarracenos, mas pela sua entrega ao renunciar ao seu nobre projeto, para seguir humildemente a vontade do Senhor. António diz adeus à amada terra de África e toma o caminho de regresso a Portugal.

Todavia Deus está de novo no seu caminho, para lhe mudar de rumo. O navio, levado por ventos contrários, é arrastado até às praias da Sicília.

Doente e vivendo uma crise interior, António desloca-se a Assis, onde encontra São Francisco, no Pentecostes de 1221. Com o fascínio da sua encantadora santidade, o Poverello influi profunda- mente sobre o desconhecido discípulo, dando-lhe outra vez paz e luminosidade interior. De Assis, António foi conduzido até à Romagna, no ermitério de Monte Paulo, no distrito de Forlí. Para fazer o que? Para se tornar no homem que fala com o Senhor, de amigo para amigo. Para ser um Santo de Deus.

Antes de ir pregar aos outros, o Senhor quis que ele se convertesse no íntimo de si mesmo: tudo é nada, se não aspirarmos sincera-mente à santidade! Mas, um dia, António foi a Forlí para uma ordenação sacerdotal. Acontece, porém, que faltou o pregador oficial, por isso encarregaram-no de dizer algumas palavras. António não pode esquivar-se ao convite do superior e fala. É a revelação do seu talento e da sua qualidade de pregador. A partir daquele dia, é enviado a percorrer todos os caminhos de Itália e de França para levar a todos os cristãos a Boa Nova do Evangelho.

Embora não haja muitos milagres documentados diretamente em Coimbra durante a sua permanência, há tradições que apontam que o seu contacto com os frades mártires e a sua mudança para a vida franciscana foram vistos como actos movidos por inspiração divina. A cidade de Coimbra tornou-se, por isso, um lugar marcante na sua vida espiritual e vocacional.

Ao longo da sua vida, já como frade franciscano e pregador itinerante, Santo António foi conhecido por uma série de milagres que o tornaram uma das figuras mais populares da Igreja Católica. Entre os mais famosos, destacam-se:

O Milagre do Menino Jesus: Conta a tradição que, durante uma estadia em Itália, Santo António teve uma visão em que o Menino Jesus lhe apareceu e repousou nos seus braços. É por isso que muitas imagens o representam com o Menino ao colo.

O Sermão aos Peixes: Numa cidade onde as pessoas se recusavam a ouvi-lo, Santo António dirigiu-se à margem de um rio e começou a pregar aos peixes, que, segundo a lenda, vieram à superfície para o escutar. Este milagre mostra o seu dom extraordinário de comunicação.

A Mula que se ajoelhou diante da Hóstia: Para provar a presença real de Cristo na Eucaristia, Santo António desafiou um herege a apresentar a sua mula faminta. A mula ignorou a comida e ajoelhou-se diante da Hóstia consagrada que António segurava.

O Milagre do Coração de um Avarento: Pregando contra a avareza, Santo António revelou que o coração de um homem rico e ganancioso não estava no seu corpo, mas escondido entre as suas riquezas. Quando abriram o túmulo do homem, o coração não estava lá, mas sim no cofre onde guardava o dinheiro.

A Reconciliação do Pai com o Filho: Conta-se que, em Pádua, conseguiu evitar um assassinato ao convencer um jovem a perdoar o pai violento que ele planeava matar. A sua intervenção evitou uma tragédia familiar.

Como bom discípulo e apóstolo de Cristo, ele conquistava as almas com a força da oração, com seu bom exemplo, com iluminados e pacientes discursos. Graças às suas fadigas e àquelas não menos merecedoras e frutuosas de inumeráveis outros missionários franciscanos e dominicanos, a Europa cristã em poucos anos adquiriria um novo rosto. Além disso, é preciso recordar que a sua missão não se limitava somente à pregação, mas havia outras tarefas que pesavam sobre ele.

Teve cargos de dirigente no seio da Ordem Franciscana, nomeadamente o de superior dos frades da Itália do norte; foi o fundador dos estudos teológicos da sua Ordem e ensinou em Bolonha, Montpellier, Toulouse e Pádua. Nos poucos momentos de tempo disponível, compilou as obras que lhe mereceram, pela profunda sabedoria, o título de Doutor da Igreja.

Foi o defensor dos pobres, sempre e em todo o lado, desafiando abertamente os opressores, conforme o testemunho de um seu contemporâneo: “António, que tão ardentemente tinha desejado morrer mártir, não cedia diante de ninguém, ainda que tivesse que dar a vida, e com admirável coragem resistia à tirania dos grandes. Atacava com dureza certas pessoas importantes, que outros pregadores, também famosos, tratavam, por medo, com deferência ou procuravam evitar. Assim era António: não um Santo, fechado no sossego da sua cela, não um doutor, que anda numa roda-viva entre a cátedra e a biblioteca, mas o homem que tinha o culto da verdade, custe o que custar, alternando doçura e inflexibilidade, conforme as situações, sem medo de nada e de ninguém, sobretudo quando se tratava de defender os oprimidos.

Uma sexta-feira, 13 de Junho de 1231, ao meio-dia, António, desceu da sua cela na nogueira. Mal se tinha sentado à mesa, teve um ataque cardíaco e teria caído por terra, se os irmãos não o tivessem amparado.
Com um fio de voz, o enfermo pediu que o levassem até Pádua; queria morrer no pequeno convento junto da amada Igrejinha de Santa Maria. Um lavrador pôs à disposição o seu rústico carro; o Santo foi aconchegado da melhor maneira possível e o carro pôs-se lentamente a andar, acompanhado pelo confrade Frei Lucas.

O dia estava a declinar, quando António chegou às proximidades de Pádua.

Os frades persuadiram-no a parar em Arcella, no pequeno convento, onde estavam instalados os capelães ao serviço das Irmãs Clarissas. Foi numa modesta cela – que ainda hoje religiosamente se conserva – que António foi ao encontro do Senhor.

Esgotado, mas lúcido, quis receber o sacramento da Reconciliação, a santa Eucaristia e o óleo dos Enfermos.

Em seguida, com a voz que lhe restava, en-toou o cântico à Virgem: “Ó gloriosa Rainha, exaltada sobre as estrelas”. Com os olhos luminosos, o Santo fitava diante de si. “O que é que vês?”, perguntou o Frei Lucas. “Vejo o meu Senhor”, murmurou o Santo moribundo. A agonia foi brevíssima, o trânsito leve e sereno.

Apagava-se assim com 36 anos de idade, um dos maiores apóstolos de Cristo e do Evangelho.

O corpo do homem de Deus foi transportado de Arcella, cumprindo o seu último desejo, até à pequena Igreja de Santa Maria. Toda a cidade acompanhou em luto o funeral. Na mesma tarde, sobre o túmulo de António começaram os milagres. A fama de António espalhou-se rapidamente, chamando até Pádua grupos de peregrinos das zonas mais longínquas. Os milagres continuaram a ritmo acelerado.

As autoridades da Igreja interessaram-se imediatamente pelo sucedido, desde o bispo de Pádua, Jacopo de Corrado, até ao Papa Gregório IX, um e outro amigos pessoais e admiradores de António.
Teve lugar o processo de canonização, diocesano e apostólico, que se concluiu muito rapidamente, com o reconhecimento unânime da sua santidade.

Não tinha passado ainda um ano, da morte do grande apóstolo, quando, a 30 de Junho de 1232, na catedral de Espoleto, o Papa Gregório IX elevava à honra dos altares António de Pádua.

Os confrades do Santo, ajudados pelos paduanos e pelos peregrinos, iniciaram imediatamente a construção de uma grande basílica, onde repor dignamente os restos mortais do Santo dos milagres.

Hoje não há povo que não conheça Santo António, não há crente que não o venere: sobre todos desça a sua intercessão e o conforto da graça e da bênção divina.

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