Opinião

O Futuro da Economia e a Economia no Futuro

TORRES FARINHA | 11 anos atrás em 08-07-2013

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TORRES FARINHA

As palavras défice, recessão, desemprego e outras tantas suas sinónimas nunca fizeram tão fortemente parte do léxico dos portugueses e dos europeus como agora.

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Associada a estes adjectivos está a palavra sacrifício, que os cidadãos têm que fazer, dando como contrapartida a palavra esperança.

Importa agora avaliar o pragmatismo deste antagonismo a partir dos cenários que se perspectivam para a economia europeia e mundial e tirar daí as ilações possíveis.

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Comece-se por tomar como referência alguns cenários, tais como os que Martin Jacques veicula para os anos 2025 e 2050. Este autor perspectiva que, em 2025, o rendimento per capita seja distribuído da seguinte maneira, por ordem decrescente de importância: Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, França, Japão, Alemanha, Itália, Coreia, Rússia, México, Brasil, China, Turquia, Irão, Vietname…

Saltando para as projecções do ano 2050, têm-se as seguintes alterações, por ordem decrescente de importância: O primeiro grupo corresponde ao clube dos ricos (Estados Unidos, Coreia, Reino Unido, Rússia, Canadá, França, Alemanha, Japão); O segundo grupo é o de rendimento médio superior (México, Itália, Brasil, China, Turquia); o grupo seguinte é o de rendimento médio inferior (Vietname, Irão, Indonésia, Índia, Egipto, Filipinas).

Admitindo que estes cenários são razoavelmente pragmáticos, fica evidenciado o abaixamento do rendimento per capita progressivo da generalidade dos países da União Europeia e o incremento da riqueza dos países do leste asiático e dos BRIC. Sendo assim, que expectativas ter para a economia europeia?

Este tipo de reflexão deverá ser complementado com a análise dos movimentos de segurança e defesa internacionais, designadamente dos Estados Unidos, os quais dão uma perspectiva adicional sobre os novos pontos estratégicos de interesse deste país, que deve continuar a ser visto como um barómetro da economia global.

Mas continuando apenas no campo da economia, continua a assistir-se à hegemonia do Dólar, aparentemente contrariado pelo permanentemente ameaçado Euro e com o Renminbi no horizonte. Este é um cenário que é sistematicamente omitido na discussão quotidiana do novo desenho da economia mundial – porém, importa equacionar com urgência como esta se vai comportar no futuro, e perspectivar o que irá acontecer no dia em que o país que tem um dos maiores superavits do mundo decidir tornar a sua moeda como a preferencial para as transacções internacionais e como referência das dívidas de muitos países, nomeadamente daqueles de que a China é detentora.

E como é que a União Europeia pode reagir e tentar sobreviver a estes cenários que lhe parecem ser todos adversos?

Sejamos pragmáticos: o que se fabrica na Europa faz-se cada vez mais e melhor noutros países, designadamente no Leste Asiático, o que significa que este lado do mundo terá cada vez mais dificuldade em enriquecer pela via das exportações. A Europa e, em particular a União Europeia, tem um problema comum que é o de encontrar políticas transversais e sinérgicas entre os vários países que a constituem. Os fundos estruturais, se ajudam a eliminar diferenças, também ajudam a exacerbar egoísmos. De facto, a União Europeia é um espaço heterogéneo onde quase não se conseguem efeitos multiplicativos em quase nenhum sector de actividade.

Coloca-se então a questão de saber qual o desenho da economia europeia no futuro próximo e longínquo, para o que importa equacionar aspectos, tais como: Quais os recursos endógenos da Europa e a sua situação de consumo interno versus externo? Qual o ciclo de vida dos diversos bens de consumo e a sua relação com a capacidade produtiva instalada? Qual o nível de sustentabilidade ambiental? Que tipo de qualidade de vida a Europa pretende para o seu futuro?

Talvez seja este o momento de repensar a União Europeia baseada nos países reais que a constituem em vez de apenas da moeda suportada em produtos cada vez mais virtuais que desviam a atenção daquilo que é verdadeiramente o seu suporte de futuro, que é a sua capacidade produtiva real, a sua diversidade cultural e o respeito e qualidade de vida dos seus povos.

Neste ponto justifica remeter para o meu artigo da semana passada, trazendo para o contexto europeu aquilo que é tão difícil fazer nos países, e se é difícil nestes, então a verdadeira União Europeia ainda está tão longe, isto é, o Conceito Estratégico Europeu, numa extensão dos Conceitos Estratégicos nacionais.

Esta visão estratégica europeia, holística, deveria incorporar as vertentes sociais, económicas, ambientais, de segurança, de educação, de consistência interna e de posicionamento internacional – mas será credível esta discussão num horizonte antes de 2025 ou 2050 para alterar as previsões inicialmente expostas?

Enquanto a Europa continua parcimoniosamente a filosofar sobre integração, coesão e união, numa prolífica produção de teses de pós-graduação em torno destas temáticas, outros povos e outras civilizações vão prosperando e ganhando dianteira, pois tratam estes assuntos com o pragmatismo e a determinação que se impõe, porque o futuro deve ser construído hoje, porque amanhã já é tarde.

TORRES FARINHA

Investigador

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