Saúde

Novo medicamento para emagrecer pode travar cancro da mama

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 1 hora atrás em 17-07-2025

Uma nova investigação norte-americana sugere que a tirzepatida, o princípio ativo do medicamento Mounjaro, pode ajudar a retardar significativamente o crescimento de tumores de cancro da mama — pelo menos em estudos realizados com ratos.

A descoberta traz esperança adicional aos já conhecidos benefícios para a saúde destes medicamentos, originalmente desenvolvidos para o tratamento da diabetes tipo 2 e mais recentemente utilizados na perda de peso.

As chamadas injeções anti-obesidade revolucionaram o combate à obesidade e têm vindo a revelar potenciais benefícios adicionais, como a redução do risco de ataques cardíacos, AVCs e doenças renais. Agora, os cientistas acreditam que estas terapias poderão ter também um papel promissor na oncologia.

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Os investigadores, da Universidade do Michigan, observaram que ratos alimentados com uma dieta rica em gordura e tratados com tirzepatida perderam cerca de 20% do seu peso corporal e desenvolveram tumores de mama significativamente mais pequenos em comparação com os que receberam placebo. O estudo foi apresentado esta semana no congresso anual da Sociedade de Endocrinologia (ENDO 2025), realizado em São Francisco.

A investigadora Amanda Kucinskas, especializada em obesidade e risco de cancro da mama, sublinha que “embora sejam dados ainda muito preliminares, os resultados sugerem que estes novos medicamentos contra a obesidade podem ajudar a reduzir o risco de cancro da mama associado à obesidade, ou mesmo melhorar os resultados em quem já tem a doença”.

A obesidade é reconhecida como um importante fator de risco para o desenvolvimento e reaparecimento do cancro da mama. Estudos anteriores já tinham sugerido que a perda de peso pode melhorar significativamente os resultados clínicos em pacientes com cancro.

O ensaio realizado envolveu 16 ratos com tumores induzidos, alimentados com uma dieta rica em gordura para simular obesidade. Aos 32 semanas de idade — equivalente à meia-idade em ratos — foram divididos em dois grupos: um recebeu injeções de tirzepatida em dias alternados durante 16 semanas; o outro grupo recebeu um placebo.

Além da perda de peso, os investigadores encontraram uma correlação direta entre a redução da massa gorda e o tamanho dos tumores. No entanto, ainda não é claro de que forma a tirzepatida atua sobre os tumores — e são necessários ensaios clínicos em humanos para confirmar estes efeitos, pode ler-se no Daily Mail.

Esta nova linha de investigação vem no seguimento de um estudo apresentado em maio, durante a conferência anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), que sugeriu que medicamentos da classe dos agonistas do GLP-1, como a tirzepatida, podem reduzir o risco de até 14 tipos de cancros relacionados com a obesidade, incluindo o cancro da mama, em pessoas com diabetes.

Os dados indicam que pacientes que tomavam GLP-1 tinham um risco 7% inferior de desenvolver este tipo de cancros em comparação com os que utilizavam outro tipo de medicação para a diabetes (inibidores DPP-4). Além disso, apresentavam uma probabilidade 8% inferior de morrer ao longo de um período de 10 anos.

Já em dezembro passado, um estudo apresentado no Simpósio de Cancro da Mama de San Antonio revelou que pacientes obesos que continuaram a tomar medicamentos para a perda de peso após o tratamento oncológico viveram, em média, mais tempo. O estudo envolveu mais de mil participantes.

Contudo, os cientistas alertam que há limitações importantes. Por exemplo, descobriu-se que mulheres que tomavam medicamentos hormonais como o tamoxifeno — frequentemente utilizado para prevenir a recorrência do cancro da mama — não beneficiaram da perda de peso induzida pelas injeções. Na verdade, acabaram por ganhar peso.

Segundo especialistas, como o professor Neil Iyengar, então oncologista no Memorial Sloan Kettering Cancer Centre, este fenómeno pode dever-se ao efeito do tratamento hormonal, que por si só induz aumento de peso, possivelmente neutralizando os efeitos das injeções.

Neil Iyengar acrescentou: “Talvez, para estes casos, seja necessário ajustar a dose”.

Apesar de ser ainda cedo para aplicar estas descobertas em contexto clínico humano, os dados reforçam a ideia de que combater a obesidade com medicamentos inovadores poderá vir a ter implicações muito além da perda de peso — incluindo no combate ao cancro.

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