Investigadores da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, desenvolveram um exame de sangue inovador que pode identificar sinais de cancro até três anos antes de um diagnóstico clínico tradicional.
A descoberta, publicada na revista científica Cancer Discovery, representa um avanço promissor na luta contra os chamados “assassinos silenciosos” — tipos de cancro que evoluem de forma discreta durante anos, sem causar sintomas visíveis.
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O estudo baseia-se na análise de amostras de sangue recolhidas no âmbito do estudo ARIC (Risco de Aterosclerose em Comunidades), iniciado no final dos anos 1980. Utilizando tecnologia de sequenciação genética ultrassensível, a equipa concentrou-se em 52 participantes: 26 que desenvolveram cancro até seis meses após doarem sangue, e 26 que não desenvolveram a doença. O teste utilizado — um ensaio de deteção precoce de múltiplos cancros (MCED) — procura fragmentos de DNA mutado, conhecidos como ctDNA (DNA tumoral circulante), que são libertados por tumores na corrente sanguínea.
A grande surpresa surgiu quando os cientistas analisaram amostras mais antigas de seis dos casos positivos: em quatro delas, recolhidas mais de três anos antes do diagnóstico de cancro, já era possível detetar as mesmas mutações tumorais. “Estes resultados demonstram que é possível detetar DNA tumoral circulante mais de três anos antes do diagnóstico clínico”, explicou Yuxuan Wang, professor assistente de oncologia e autor principal do estudo.
Ao contrário dos exames tradicionais, que se focam num único tipo de cancro (como a mamografia para o cancro da mama), os testes MCED procuram sinais de dezenas de tipos de tumores numa única amostra de sangue. Embora ainda não sejam parte da prática médica corrente, os especialistas consideram-nos extremamente promissores. “Este estudo mostra a promessa dos testes MCED na deteção precoce de cancros e estabelece as sensibilidades de referência necessárias para o seu sucesso”, afirmou Bert Vogelstein, professor da Johns Hopkins e um dos autores seniores do trabalho.
A esperança é que, no futuro, um simples exame de sangue anual possa alertar para o desenvolvimento precoce de um cancro, antes mesmo de surgirem sintomas como dor ou fadiga — o que aumentaria significativamente as hipóteses de cura.
Ainda há um caminho a percorrer: os testes precisam de ser validados em ensaios clínicos de larga escala e a comunidade médica terá de definir como reagir a um resultado positivo. “Detectar cancros anos antes pode proporcionar tratamentos com desfechos mais favoráveis, mas será essencial definir o seguimento clínico adequado”, reforçou Nickolas Papadopoulos, outro dos investigadores envolvidos.
Apesar dos desafios, a promessa é clara: a deteção precoce através de exames de sangue pode transformar a forma como diagnosticamos e tratamos o cancro. Tudo isso a partir de uma simples colheita de sangue.
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