Saúde

Nova cápsula promete acabar com a luta diária dos doentes com esquizofrenia

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 6 meses atrás em 24-06-2025

Imagem: Adam Glanzman

Nos limites cuidadosamente monitorizados de uma clínica, pacientes com esquizofrenia tomavam o que parecia ser um multivitamínico comum. Mas dentro de cada cápsula havia algo que poderá mudar para sempre o tratamento das doenças mentais graves.

Esta inovadora cápsula oral, desenvolvida após uma década de pesquisa conjunta entre o MIT e a empresa Lyndra Therapeutics, abre-se no estômago como uma estrela-do-mar, libertando lentamente o equivalente a uma semana de medicação. Depois, de forma natural, é expelida pelo corpo. O ensaio clínico, que comparou esta fórmula semanal, designada LYN-005, com a toma diária da risperidona – um dos antipsicóticos mais usados no tratamento da esquizofrenia –, revelou resultados promissores.

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“Transformámos um medicamento que precisava de ser tomado diariamente numa toma semanal oral,” explica Giovanni Traverso, gastroenterologista e co-desenvolvedor da cápsula. “Esta tecnologia garante níveis sustentados da medicação, facilitando a adesão e o controlo dos sintomas”, como consta na ZME Science.

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A cápsula contém um dispositivo em forma de estrela com seis braços flexíveis impregnados de risperidona, que se abrem no estômago para evitar que o comprimido seja expelido prematuramente. Durante uma semana, os braços libertam o medicamento de forma gradual. Terminada a libertação, os braços amolecem e fragmentam-se para serem expulsos naturalmente.

Este avanço aborda um dos maiores desafios no tratamento da esquizofrenia: a dificuldade dos pacientes em manter a toma diária regular da medicação, muitas vezes por motivos cognitivos, estigmas ou efeitos da própria doença. As recaídas frequentes, hospitalizações e agravamento dos sintomas estão frequentemente associados à má adesão ao tratamento.

Embora existam antipsicóticos injetáveis de ação prolongada, nem todos os doentes os aceitam ou têm acesso fácil a profissionais de saúde para a administração. A nova pílula semanal surge assim como uma solução prática e não invasiva.

O estudo envolveu 83 pacientes, maioritariamente homens e pessoas negras ou afro-americanas, com idade média de 49 anos — uma amostra demográfica pouco comum em ensaios psiquiátricos. Dos participantes, 47 completaram as cinco semanas de estudo, apresentando níveis estáveis de risperidona no sangue e menos variação do que na toma diária. A pílula foi geralmente bem tolerada, com efeitos secundários ligeiros e transitórios, como constipação e refluxo ácido.

“Esta nova tecnologia oral de libertação prolongada representa um avanço significativo no tratamento da esquizofrenia e do transtorno esquizoafetivo,” concluem os autores.

Atualmente, os investigadores preparam ensaios clínicos mais vastos antes de avançar para aprovação regulatória. Se bem-sucedida, esta tecnologia poderá ser adaptada a outros medicamentos para doenças crónicas como hipertensão, asma e até contraceptivos.

Robert Langer, professor no MIT e cofundador da Lyndra, afirma: “É emocionante ver uma inovação que começou em laboratório chegar a ensaios clínicos avançados.”

Num panorama médico em rápida evolução, esta cápsula em forma de estrela destaca-se pela simplicidade: uma toma semanal, sem injeções, sem lembretes diários. Para quem vive com esquizofrenia, poderá significar a diferença entre crise e estabilidade.

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