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Noite de Reis é uma comédia sobre o amor para ver em Coimbra, Lisboa e Loulé
Uma comédia musical, interpretada apenas por homens à “maneira shakespeareana”, assinala a incursão do encenador Ricardo Neves-Neves no universo de William Shakespeare, com “Noite de Reis”, a estrear-se quinta-feira.
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De 26 de janeiro a 19 de março, no Teatro da Trindade, em Lisboa, exibe-se uma peça cuja a dramaturgia e encenação conta com a direção de Ricardo Neves-Neves. Com uma equipa extensa e delicada, a peça também será exibida em Coimbra e Loulé, nos dia 15 e 16 de Abril e 9 e 10 de Setembro, respectivamente.
Encomendada pelo diretor artístico do Teatro da Trindade, Diogo Infante, ao seu homólogo do Teatro do Elétrico, Ricardo Neves-Neves, logo em 2019 ficou definido entre ambos que esta comédia, uma das mais populares de Shakespeare, seria feita apenas com homens, como no tempo do autor inglês.
“Fazia ainda mais sentido porque acabara de fazer uma [peça] apenas com mulheres [‘Banda sonora’]”, disse Ricardo Neves-Neves aos jornalistas, no final de um ensaio.
Com 13 atores em cena, Ricardo Neves-Neves optou por colocar três homens a interpretar Maria (Adriano Luz), Olívia (Filipe Vargas) e Violeta (Cristóvão Campos).
“Queria brincar um bocadinho este [fator] que já está no texto, da mulher que se disfarça de homem [Violeta]. Então como é o homem que se disfarça de mulher que se disfarça de homem? Que camadas nós temos aqui em cima e o que é que realmente vemos?”, questionou o encenador.
Shakespeare fez de “Noite de Reis” uma comédia de equívocos sobre paixões desencontradas.
No reino imaginário de Ilíria, o duque Orsino vive apaixonado por Olívia que não o ama. Na sequência de um naufrágio, chega a jovem Violeta, que tem um irmão gémeo, Sebastião, que julga morto. Violeta disfarça-se de homem e começa a trabalhar para Orsino, entregando mensagens de amor a Olívia. Esta apaixona-se por Violeta, pensando que é um homem, enquanto Violeta, refém do disfarce, se apaixona por seu amo. No final, após a chegada de Sebastião, tudo se resolve.
“Há duas personagens femininas que se beijam, mas na cena são dois homens, portanto há aqui numa dupla, tripla camada que nós vemos e que na verdade também queremos usar – esta imagem e a possibilidade de a ter, este toque íntimo das personagens femininas, mas que são dois atores masculinos, e [ver] como é que isto funciona”, frisou Neves-Neves. “A pele toca na pele são dois homens que [se] tocam, mas as personagens não são masculinas”.
“Depois, na verdade, o mundo está a evoluir, e nós também sentimos a discussão à volta desta temática social e também política”, acrescentou, sublinhando que, no final, “a equipa acabou por ter um peso maior de mulheres do que de homens, já que a orquestra é toda composta por mulheres”.
“Aquilo que reforço, sem entrar em grande fervor é que acho que os espetáculos devem ter as pessoas que são necessárias, independentemente das suas características de nascimento, ou o que for. Portanto, reforço que todas as pessoas que entram neste espetáculo – e estou contente porque entram no espetáculo -, foram escolhidas pela admiração que tenho por elas e pela confiança que tenho nelas”, enfatizou Neves-Neves, que dirige pela primeira vez atores como Adriano Luz, Marco Delgado, Luís Aleluia e Manuel Marques.
Várias situações hilariantes marcam a peça, pela interação entre os atores, mas também pela presença da música, pelo modo como ela impõe pensamento sobre a trama e define a relação entre as personagens.
Com direção musical da pianista Mrika Sefa, natural do Kosovo, a ‘banda sonora’ cruza repertório do tempo de Shakespeare, com peças mais contemporâneas, “com alguma cor”, a partir de composições que Neves-Neves ouvia nos anos 1990-2000, passando pelo universo italiano de Nino Rota e Federico Fellini.
Ao resultado final não é alheio o facto de terem estado mais de dois meses a ensaiar. “A questão de se achar cada vez mais que os espetáculos se levantam em três, quatro semanas, não é verdade”, sustentou o encenador.
“Precisamos de tempo para trabalhar e para trabalhar com conforto. Quando digo conforto não é estarmos a fazer férias pagas. É termos tempo para pensar, para experimentar e não trabalharmos com aquele peso que às vezes as condições de logística impõem”.
“Noite de Reis” tem dramaturgia de Neves-Neves a partir das traduções de António M. Feijó (encenada em 1998 por Ricardo Pais para o Teatro Nacional S. João), Henrique Braga e da brasileira Beatriz Viégas Faria, num trabalho que também tem em conta uma tradução própria do original, e uma versão que Neves-Neves viu em inglês, com o objetivo de usar “muito daquilo que é a nossa linguagem, sem tirar o lado lírico do texto”.
Aos figurinos de época (de Rafaela Mapril) e a um cenário que conjuga músicos, atores e uma estética senhorial (cenografia de Ana Paula Rocha), juntam-se uma linguagem e uma dinâmica contemporâneas, desde as expressões usadas pelas personagens, à maquilhagem e aos adereços, entre os quais se inclui uma moto.
“Noite de Reis” tem ainda interpretações de António Ignês, Dennis Correia, João Tempera, José Leite, Rafael Gomes, Renato Godinho e Ruben Madureira.
A Mrika Sefa, no ensemble musical juntam-se Ana Cláudia Santos (flauta), Eliana Lima (trompa e acordeão), Filipa Portela (soprano e alaúde), Helena Silva (violino), Juliana Campos (fagote e canto), Madalena Rato (percussão), Rita Nunes/Nádia Anjos (saxofone), Sofia Gomes/Teresa Soares (violoncelo) e as sopranos Isabel Cruz Fernandes e Beatriz Ventura, mais a meio-soprano Rita Carolina Silva.
A produção reúne Teatro da Trindade INATEL, Teatro do Eléctrico, Cineteatro Louletano (09 e 10 de setembro), Convento São Francisco, em Coimbra (14 de abril), e Culturproject.
Em cena até 19 de março, na sala Carmen Dolores do Trindade, “Noite de Reis” tem récitas de quarta-feira a sábado, às 21:00, e, ao domingo, às 16:30.
Na sessão de 12 de fevereiro, haverá uma conversa com o público e, no dia 26, Língua Gestual Portuguesa e audiodescrição.
A estreia de “Noite de Reis” é antecedida de um ensaio solidário, na quarta-feira, a reverter para a Associação Abraço.
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