Durante anos, acreditou-se que ter um bom sentido de orientação era uma questão inata — uma espécie de “bússola interna” herdada à nascença. No entanto, novas investigações científicas vêm pôr essa ideia em causa, demonstrando que, afinal, a capacidade de navegação depende mais da experiência de vida do que da genética.
Uma das experiências mais reveladoras neste campo envolve testes chamados de “fora de vista”, onde os participantes, depois de se deslocarem por um determinado espaço (real ou virtual), são desafiados a apontar para locais previamente visitados, mas já fora do seu campo de visão. Os resultados são surpreendentes: enquanto alguns conseguem indicar a direção correta com grande precisão, outros falham redondamente — e isso parece estar relacionado não com o ADN, mas com as vivências individuais.
Esta conclusão foi reforçada por um estudo realizado em 2020, onde mais de 2.600 pares de gémeos — idênticos e fraternos — participaram em jogos de navegação em labirintos virtuais. Os investigadores, liderados pela psicóloga Margherita Malanchini, perceberam que os gémeos idênticos não mostravam maior semelhança nos desempenhos do que os fraternos. O que mais contava era aquilo que os cientistas chamam de “ambiente não partilhado” — ou seja, as experiências únicas de cada um, como consta na ZME Science.
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Outra experiência relevante foi levada a cabo através de um jogo para telemóveis chamado Sea Hero Quest, criado pelo neurocientista Hugo Spiers. Milhões de jogadores em todo o mundo participaram voluntariamente, ajudando os investigadores a perceber como os hábitos de vida — como viajar, explorar novos espaços ou até o tipo de trabalho — influenciam a nossa capacidade de orientação.
A conclusão é clara: o sentido de direção não é um dom inato reservado a poucos privilegiados. É, antes de mais, uma competência treinável, moldada pela prática, pelos desafios e pela forma como interagimos com o mundo à nossa volta. Em vez de perguntar “Porque é que me perco tanto?”, talvez devêssemos questionar: “Quantos mapas mentais tenho desenhado na minha vida?”
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