Opinião

New Year’s Resolution 

Notícias de Coimbra | 4 meses atrás em 28-12-2023

Eu nem sou destas coisas, mas desta vez resolvi fazer uma  resolução para o novo ano: vou melhorar o meu inglês. 

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Ao contrário do que aconteceu nos anos anteriores, em que  assumi a quota de cínico pouco crente em promessas de  réveillon, decidi estabelecer um compromisso para o meu  desenvolvimento pessoal, a concretizar em 2024. 

Nunca fui usuário desta tradição, segundo a qual a  inspiração do novo ano, a promessa do amanhã, leva bestas  do ano passado a tornarem-se bestiais do ano seguinte. Um  milagre digno da Cinderela, que não só transforma abóboras  em carroças como converte pecadores em virtuosos, num  ato certeiro que nos liberta do mal do passado logo após o  apito inicial do dia 1 de janeiro. 

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Enquanto sacerdote da Igreja Universal do Ceticismo – uma  instituição de má fama, julgada pelos otimistas e  sonhadores, mas com a virtude inestimável de não  evangelizar novos fiéis ou molestar crianças na catequese – , nunca me incluí na lista de pessoas que, chegado o Ano  Novo, distribuem promessas transformadoras, que  normalmente se situam em deixar de fumar, começar a  comer melhor, estar mais com a família ou, claro, fazer  voluntariado. 

Sendo um iniciante nestas lides, talvez seja melhor começar  por um empreendimento mais modesto. Algo que não exija  largar os enchidos ou o Marlboro, mas que também não seja  tão fútil como aprender a jogar ping-pong com a mão  esquerda ou a cantar o hino nacional com sotaque açoriano.

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Por isso, e empurrado pelas circunstâncias, optei por este  compromisso de aperfeiçoar o meu inglês. Não que o meu  inglês seja indigente. É, aliás, suficientemente desenvolvido  para que eu possa viajar sem constrangimentos de  comunicação ou mesmo para que me possa adjectivar como  “fluente” em qualquer curriculum vitae

Porém, o meu inglês passa mal quando longamente exposto  a pessoas que dominam completamente a língua. Resiste  nas primeiras duas horas, mas, gradualmente, o léxico  comprime-se até à derradeira implosão em que revela todas  as suas debilidades. 

Para meu infortúnio, ao longo dos anos, alguns dos meus  amigos mais próximos que vivem emigrados – gente  pessimista que não acredita na robustez e diversidade das  oportunidades de trabalho em Portugal – sucumbiram aos  encantos de mulheres estrangeiras. Assim, gradualmente,  tenho-me visto obrigado a testar o meu inglês ao limite, sob  pena de ser qualificado como o amigo tímido ou mal encarado que não interage com as namoradas dos amigos. 

Todos perdem. Eu, por maioria de razão, que me vejo  exposto e fracassado, qual aluno medíocre da British  Council; os meus amigos, que se veem privados da minha  erudição e eloquência só absolutamente perceptíveis  quando transmitidas na língua de Camões; e, claro, as suas  namoradas, que têm de empenhar grandes esforços para  disfarçar o desdém pela minha inabilidade no  manuseamento da língua inglesa. 

It’s a shame.  

P.S.: Claire, if you’re reading this, I hope you can excuse  my poor English for the next few days. But, please, could  you also make a New Year’s Resolution and try to learn a 

little bit of portuguese? Next year would be so much easier  for me…

Opinião | Bernardo Neto Parra

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